UM SANTUÁRIO DE ELEFANTES NO BRASIL

  Rana, uma imagem feliz no santuário de elefantes (Foto: site SEB) 

José Saramago escreveu certa vez que a relação humana com os animais, em muitos setores do entretenimento, é uma clara demonstração de cegueira moral: “Pudesse eu, fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, proibiria a utilização de animais nos espetáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza”. Tinha razão o escritor Prêmio Nobel de Literatura, porque a vida dos animais aprisionados ou privados de seu espaço vital se traduz em violência à sua natureza selvagem. E dentre as principais vítimas do hábito cultural que subjuga animais, em nome da diversão pública, estão os elefantes. 

As ameaças que recaem sobre esses grandes paquidermes aumentaram muito ao longo do século 20. No continente africano isso se deve à caça ilegal destinada à comercialização de marfim e à derrubada das áreas florestais para ocupação humana, lembrando que nas quatro últimas décadas houve significativa perda do habitat dos elefantes, a Savana, que é um bioma típico das regiões de clima tropical e seco, similar ao Cerrado brasileiro. Na Ásia, a situação também se agravou: estima-se que no século passado, em razão da expansão urbana e agrícola, cerca de metade da população de elefantes deixou de existir, restando apenas 40 mil indivíduos na natureza. Isso levou a espécie a ser classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como em perigo de extinção, pelo fato de que suas populações diminuíram pelo menos 50% nas últimas três gerações. 

Já no cenário sul-americano, com o recente aprimoramento da legislação ambiental e o avanço dos estudos de direito animal, a cultura relacionada ao uso instrumental da fauna vem se modificando a olhos vistos, tanto que algumas Nações já aboliram, mediante lei, a utilização de animais em circos, como Bolívia, Peru e Colômbia. O Brasil, apesar de contemplar na Constituição Federal um dispositivo expresso para garantir a proteção e a dignidade dos animais (artigo 225 § 1º, inciso VII), ainda aguarda a votação do PL 7.291/2006 (proibitivo do uso animal em atividades circenses), que teve apensado o PL  174/23 (cujo objeto é mais amplo, ao proibir a utilização de animais para fins de entretenimento). 

Dos 42 elefantes que se encontram na América do Sul a maioria vive cativa em zoológicos, haja vista que os circos que ainda exibem animais em seus espetáculos estão em declínio. No Brasil há 21 elefantes, sendo 16 em zoos e 5 no Santuário de Elefantes Brasil (SEB), que fica na Chapada dos Guimarães/MT. Essa associação, presidida por Scott Blais e mantida no país pelas organizações internacionais Elephant Voices e Global Sanctuary for Elephants, vem acolhendo, desde 2016, elefantes cativos resgatados em situação de risco, para propiciar a eles não só um espaço aberto para que possam exercer as potencialidades inerentes à espécie, mas também garantir os cuidados necessários para sua recuperação física e psicológica.

Já passaram pelo Santuário de Elefantes Brasil as saudosas Guida, Ramba, Pocha e Lady, cujo histórico de vida sofrida pode ser traduzido pelo cativeiro em zoos ou circos. Hoje as elefantas Maia, Rana, Mara, Bambi e Guillermina são as habitantes desse refúgio, símbolo de um espaço de paz e sempre aberto à vinda de outros elefantes. O Jus Animalis visitou o SEB e mostra agora um pouco do trabalho ali realizado por Scott e sua esposa Katherine Blais, com o auxílio de equipe de tratadores, do médico veterinário Matheus Bianchini e de apoiadores externos. Isso sem esquecer da atuação do biólogo Daniel Moura, membro da diretoria e responsável pela logística das operações de transporte dos elefantes ao santuário. Esforço, perseverança e idealismo é o que não faltam a esse grupo inteiramente dedicado a dar dignidade para os animais acolhidos. Os elefantes merecem!

MEMÓRIA DE ELEFANTE

A biologia evolutiva sabe que os animais têm uma vida emocional complexa e vivenciam sentimentos dos mais diversos. Estudos científicos do campo da etologia, que foram desenvolvidos após as observações pioneiras de Charles Darwin, demonstraram que grandes mamíferos como baleias e elefantes, por exemplo, possuem inteligência apurada e uma singular capacidade de expressar emoções como amor, compaixão, angústia, tristeza ou nostalgia. Mais do que isso, eles costumam manter lembranças de lugares agradáveis ou prazerosos e, também, de coisas ruins que vivenciaram.

Costuma-se dizer que o elefante, dentre todos os animais, é aquele que possui a mais extraordinária capacidade de memória. Sim, um elefante nunca esquece. Ele é capaz de recordar sensações diversificadas que experimentou na vida, como a felicidade ou o sofrimento. Do ponto de vista negativo, o picadeiro ruidoso do circo, o estalo da chibata, as correntes presas nas patas, os muros do cativeiro e o recinto com piso de cimento significam para os animais que passaram por isso, sem dúvida, momentos que os fazem lembrar de uma vida antinatural e opressiva. 

O comportamento social dos animais ocorre em função de seu território, definindo-se nos limites geográficos em que vive ou em meio a determinado grupo. Ainda que a territorialidade restrinja a população, reduza o risco de combates e estimule a organização social, com base nas relações do domínio e submissão, privar um animal nativo de liberdade é uma das piores coisas que se pode fazer contra ele. Nada mais cruel do que prender um bicho silvestre, instrumentalizando-o para que desempenhe uma função contrária àquela que faria se estivesse em estado de natureza. A solidão, sem dúvida, é um fator que pode levar os animais cativos à doença e, também, à morte. 

Em 1995, nos Estados Unidos, Jeffrey Masson e Susan McCarthy escreveram, em seu bestseller Quando os Elefantes Choram, que funcionários de zoológicos já revelavam que os elefantes cativos pareciam sofrer de “síndrome de morte repentina” ou “síndrome do coração partido”, quando separados de seu grupo social ou mantidos isolados em recintos fechados. A solidão e o confinamento, segundo os referidos autores, são circunstâncias que podem desencadear o surgimento de doenças físicas e psicológicas, até mesmo a morte prematura dos animais cativos. Sabe-se, afinal, que se em liberdade um elefante pode viver até 70 anos, em cativeiro essa perspectiva etária é bem menor. 

Uma história real de vida sofrida merece ser citada. Desde os anos 90, no Brasil, a elefanta asiática Bambi era a principal atração de um circo. Em 2005, o Ministério Público do Estado de São Paulo processou a companhia circense para que fosse impedida de utilizar animais nos espetáculos e que removesse os bichos exóticos para local adequado à sua natureza, sob pena de multa diária. Dentre as espécies que compunham o plantel estava Bambi, costumeiramente acorrentada defronte aos locais de apresentação, como se fosse um anúncio vivo. Sob condições hostis e sem dispor de espaço para se movimentar ou água para se banhar, a cada fim de temporada Bambi seguia seu destino pelas estradas do país, de sol a sol, ao lado de seus companheiros de infortúnio.

S.J.Campos, 2003: elefanta utilizada em picadeiro de circo (Foto: Laerte Levai)

A área em que Bambi permanecia presa nos acampamentos - um recinto com menos de três metros de largura -, era eletrificada, o que inibia qualquer tentativa de o animal sair do cercado, haja vista a dor que poderia sentir ao tocar nos fios. Se bem que em certa ocasião, na capital paulista, Bambi conseguiu escapar e correu pela avenida Radial Leste, até ser encontrada sob uma árvore frutífera e reconduzida ao circo. Em outra ocasião, na cidade de Pirassununga, uma professora que levou seus alunos ao espetáculo teria presenciado funcionários do circo aplicando choques elétricos em Bambi, para fazê-la levantar do chão. Todos esses relatos estão no processo de ação civil pública que tramitou na 5ª Vara Cível de São José dos Campos (autos nº 906/05, já arquivados).  

Apesar de a ação judicial movida contra a empresa circense que explorava Bambi ter obtido sucesso, a elefanta permaneceu oculta durante vários anos até ser descoberta pela fiscalização administrativa. Quando a encontraram em seu cativeiro clandestino, ela foi apreendida e encaminhada ao zoológico de Leme e, depois, ao de Ribeirão Preto.  Neste local, provavelmente em razão das condições adversas e, também, por falta de melhores cuidados especializados, a saúde de Bambi piorou, a ponto de acarretar a perda da visão do olho direito. A partir daí protetores de animais intercederam para que a elefanta fosse transferida para um santuário que pudesse devolver a ela a dignidade que lhe fora negada. 

Bambi no zoo de Ribeirão Preto (Fonte: site SEB)

Essa história teve um final feliz. Mas quando se olha para a vida pretérita de Bambi uma coisa fica clara: se a submissão de animais em circos é algo que agride a natureza deles, os zoos nem de longe são locais adequados para abrigar grandes mamíferos como elefantes. Nada mais perverso do que prender um animal selvagem e impedir seus comportamentos naturais básicos, tornando-o mero atrativo para visitação pública. Mesmo que nos recintos de semiliberdade, galpões ou jaulas os bichos possam estar alimentados, protegidos de intempéries e ter algum acompanhamento veterinário, o bem-estar natural inexiste. 

Bambi, que hoje vive no Santuário de Elefantes Brasil, certamente ainda se recorda do que vivenciou no circo e nos zoológicos. Essa mesma memória de experiências ruins, que remete a cenários de solidão, tristeza e privações, foi vivenciada – em maior ou menor grau – pelas elefantas que puderam ser resgatadas do cativeiro para vivenciar no santuário, ainda que por um tempo breve, a experiência de uma vida livre, natural e com autonomia. A rebelde Guida chegou muito fragilizada, com estereótipos, mas no SEB pôde experimentar momentos de alegria antes de sucumbir a um aneurisma cerebral. Outra que demonstrou incontida felicidade no santuário foi Ramba, que explorou o local e interagiu com outras elefantas, mas não resistiu à doença renal crônica que a acometia.  

A solitária Lady fora muito utilizada em circo e depois mantida em zoológico, até ser transferida ao SEB, onde viveu bem os últimos cinco anos de sua vida. Quanto à Pocha e sua filha Guillermina, foram cativas durante duas décadas num zoo, em chão de cimento, sem conhecer a liberdade. Da mesma forma que Bambi, a elefanta Maia havia sido explorada em circo por 3 décadas e depois mantida acorrentada em uma fazenda por mais 5 anos, até enfim ser resgatada. Rana e Mara também passaram muitos anos em circos e depois em zoos. O histórico de todas elas, invariavelmente, veio marcado pelo sofrimento. Coisa que os elefantes não esquecem. 

UM PARAÍSO NA CHAPADA 

No passado, durante o período da colonização que aconteceu em várias partes do mundo, muitas espécies selvagens – dentre elas os elefantes - acabaram presas e embarcadas para a Europa e a América, onde eram mantidas em cativeiro para fins de exibição ou utilizadas em espetáculos públicos diversificados. Ao contrário dos elefantes asiáticos, de índole mais pacífica, os elefantes africanos ofereciam maior resistência quando retirados de seu habitat. A partir daí entraram em cena os procedimentos de doma, sempre terríveis e impiedosos, a ponto de se tornarem metodologia convencional de adestramento dos elefantes recém-capturados, para que estes obedecessem ao comando humano. 

A violência era impressionante. Os animais costumavam ser amarrados em árvores ou imobilizados no solo, sob açoites, não podendo demonstrar nenhuma indicação de dor ou sofrimento a não ser as lágrimas que lhes vertiam na face. Essa prática cruel é bem antiga e, embora tenha chegado à América como referencial ao “adestramento” de elefantes, ela sempre se manteve invisível aos olhos da justiça, tanto que no Brasil da época do apogeu de zoológicos tradicionais e circos itinerantes, ao longo do século 20, não se verifica quase nenhum processo judicial por abusos ou maus-tratos aos animais utilizados. Era como se a submissão das feras e de outros grandes mamíferos à vontade humana celebrasse o domínio da força em prol da espécie que se autodenomina racional.  

Como estratégia de divulgação para chamar a atenção das pessoas, no início das temporadas, era normal as companhias circenses desfilarem em carreata pela cidade, exibindo elefantes acorrentados e outros bichos presos. Tal prática corriqueira sempre foi aceita pelas prefeituras, até porque a possibilidade de a população ver “animais selvagens adestrados”, segundo o senso comum, fazia parte da diversão pública destinada a fomentar o imaginário coletivo. A equivocada crença na legitimidade do homem em dominar as demais espécies, induzida nas crianças com o apelo atrativo dos circos ou dos zoos, prejudicou muito o avanço da consciência social sobre os direitos animais. 

Ainda que esteja crescendo a rejeição da sociedade a esse tipo de entretenimento, tanto que o México foi um dos primeiros países da América Latina a aprovar normatização impeditiva da exibição de animais em espetáculos, no Brasil apenas os estados de Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo estabelecem tal proibição em lei. Em contrapartida, nos demais estados da federação as companhias circenses podem se apresentar com animais cativos, embora correndo o risco de serem hostilizadas pelo fato de a opinião pública já estar ciente dos abusos cometidos aos bichos. O que nos falta é uma lei que proíba a exibição recreativa de animais em todo o território nacional. E que não haja mais elefantes confinados em zoos.

Hoje qualquer pessoa sabe que nos circos ou nos zoos as potencialidades naturais dos animais ficam prejudicadas. Forçar elefantes a executar tarefas antropomórficas em picadeiros, submetê-los a viagens constantes a cada nova temporada circense ou mantê-los confinados ao espaço restrito dos zoológicos (mesmo nos zooparques), onde eles passam a maior parte do tempo recolhidos em recintos com piso de cimento, sem qualquer possibilidade de expressar vontades e interagir socialmente, são práticas que contrariam os princípios básicos do bem-estar animal. Daí a necessidade de se buscar, em favor dos elefantes cativos, um novo conceito de bem viver que considere, simplesmente, o poder de escolha por eles próprios.  Isso se chama autonomia.

E uma coisa precisa ser dita: nenhum zoológico ou zooparque consegue dar uma vida digna aos elefantes, porque a realidade física e estrutural dos estabelecimentos de visitação pública permanece sempre aquém da expectativa de um ambiente mais próximo ao natural. Seja como for, o grande desafio que surgiu na virada do século foi em relação a mais adequada destinação dos animais exóticos apreendidos administrativa ou judicialmente. No caso dos elefantes, ainda que duas ou três décadas atrás começassem a aparecer decisões que os retiraram de zoos ou circos, em razão de abuso e maus-tratos, o pretenso “local adequado” para esse recebimento dos animais era sempre o zoológico. Em nosso país a criação de santuários de animais é algo ainda recente. 

Mas para sorte dos elefantes cativos, um lugar perfeito surgiu em 2014. É meio difícil de encontrar no mapa, mas ele existe. Fica no coração do Brasil, em um ponto estratégico entre o Atlântico e o Pacífico, onde o clima, a topografia e a vegetação são muito favoráveis a esses grandes mamíferos que tanto necessitam de um refúgio amplo e protegido. Trata-se de uma área rural de 1200 hectares na Chapada dos Guimarães, local seguro, sustentável e ambientalmente aprovado pelos órgãos competentes, repleto de biodiversidade, corredores ecológicos, cursos d´água e lagoas.  Estamos falando do Santuário de Elefantes Brasil (SEB), assim apresentado em seu site:

“Somos uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que resgata elefantes cativos em situação de risco e oferece a eles o espaço, as condições e os cuidados necessários para que possam se recuperar física e emocionalmente dos anos passados em cativeiro. Dentro de nossas atividades estão a busca pela preservação das espécies, o resgate e a reabilitação de elefantes, a defesa, preservação e conservação do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, educação ambiental, voluntariado, estudos e pesquisas técnicas e científicas e projetos culturais. O Santuário de Elefantes Brasil é o primeiro santuário de elefantes na América Latina e é um projeto conduzido pelo Global Sanctuary for Elephants (GSE) e pela ElephantVoices, ambas organizações internacionais dirigidas por renomados especialistas em elefantes”. 

O presidente do Santuário de Elefantes Brasil, Scott Blais, é cofundador do The Elephant Sanctuary in Tenesse e possui no currículo mais de 20 anos de prática no manejo de elefantes africanos e asiáticos, parte dos quais diretamente em santuários. A vice-presidente Katherine Blais, que também é vice-presidente do Global Sanctuary for Elephants, reúne larga experiência como técnica veterinária no resgate e reabilitação de animais selvagens, incluindo elefantes acolhidos no santuário do Tennessee (EUA). O casal reside no próprio SEB, dedicando-se em tempo integral aos elefantes. 

 Scott  Blais e Katherine Blais, do Santuário de Elefantes Brasil (Foto: site SEB)

Na sede do santuário também atua o médico veterinário Matheus Bianchini, pós-graduado em medicina de animais selvagens pela UFMT-Cuiabá, que examina periodicamente as elefantas ali acolhidas e providencia sua avaliação clínica. Para seu regular funcionamento o SEB conta, ainda, com o apoio de 16 funcionários e tratadores de elefantes. No santuário também atua, sobretudo para as atividades externas de transporte nacional ou internacional, o biólogo Daniel Moura, que é especialista em manejo e conservação de animais silvestres, com experiência anterior adquirida no Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos.  Para completar a equipe, o SEB ainda dispõe de profissionais da área jurídica, design e publicidade.  

A seriedade do trabalho que o Santuário de Elefantes Brasil realiza no Brasil é notória, seja na transformação da qualidade de vida dos elefantes acolhidos nesse refúgio quase escondido na Chapada dos Guimarães, seja pela maneira como o santuário é administrado, mediante o pleno funcionamento da estrutura montada para os elefantes e a obtenção de todas as licenças ambientais para o exercício legal da atividade.  Scott Blais recebeu pessoalmente a reportagem do Jus Animalis e, expressando-se em bom português, disse como tudo começou: 

“Quando iniciei o projeto, em 2013, tínhamos visitados dezenas de áreas rurais no Brasil com a ideia de instalar o santuário. Até que encontramos a área onde hoje estamos, no Mato Grosso, que era uma fazenda para criação de gado. Sua localização pode ser considerada ótima: possui amplos espaços, proteção natural feita por morros, poucos vizinhos, ausência de criações ou uso de agrotóxicos no entorno, só com uma pequena comunidade rural nas imediações e não muito distante da capital Cuiabá. O clima do local é perfeito e temos disponibilidade de água. Em 2014, com a aquisição da área, sua regeneração florestal e a instalação dos recintos e equipamentos, começamos a instalar o Santuário de Elefantes Brasil, que a partir de 2016 passou a receber elefantes”.

Não se pode deixar de dizer que os elefantes cativos trazidos ao santuário em geral são idosos, vindos de um longo período de cativeiro e que também sofreram abusos e maus-tratos. O desenvolvimento de moléstias associadas está relacionado ao histórico individualizado de cada animal e às condições do local em que foram mantidos. Isso, entretanto, não é empecilho. As elefantas que chegaram ao SEB, mesmo com a saúde fragilizada, sempre demonstraram uma incontida felicidade ao explorar áreas de mata, sentir a terra, se banhar em lagos, chafurdar na lama, pastar quando quisessem ou mesmo dormir nos recintos. Tudo isso com autonomia e possibilidade de convívio social, requisitos essenciais para sua recuperação física e psicológica de toda uma vida de castigos e privações. 

A instalação do santuário, em termos ambientais, também significou a transformação na paisagem da antiga fazenda de gado, com a regeneração da mata nativa (Cerrado) e a instalação de alguns equipamentos essenciais para a funcionalidade do projeto idealizado (cercamentos, galpões e baias). Tão preservada se tornou a área reflorestada que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA) elegeu o local como local de soltura de espécies silvestres, atividade esta que acontece quase toda semana. Sabe-se que a fauna da região engloba águia-cinzenta e muitas aves, além de jaguatirica, macaco-prego, cachorro-do-mato, jabuti, lagarto, tamanduá-bandeira, veado, cobra, raposa e outros. Mas nenhum desses bichos, caso adentrem nos limites do santuário, parece incomodar as elefantas, que ali vivem tranquilas e seguras.

   Uma das visões panorâmicas no Santuário de Elefantes Brasil (Foto: site SEB)

Para conhecer o local por dentro, a reportagem acompanhou Scott em alguns pontos estratégicos do santuário, onde foi possível ter uma ideia melhor das dimensões da área protegida. A flora impressiona pela exuberância e o verde prepondera na paisagem em que circulam os elefantes. Tudo isso foi visto respeitando a necessária distância dos animais, para não atrapalhar sua rotina. Em meio ao trajeto tornou-se possível, entretanto, fotografar um grupo com três elefantas juntas, à sombra das árvores, enquanto o restante da manada devia estar se alimentando noutros locais. A ideia do santuário, como Scott costuma explicar, é voltada justamente à autonomia de cada animal ali acolhido, superando de longe a proposta dos zoos ou ecoparques:

“No santuário permitimos que os elefantes expressem seus comportamentos naturais, fazendo descobertas a cada dia. Nesses novos caminhos eles precisam tomar suas próprias decisões e resolver problemas, o que os estimula constantemente.  A proposta dos santuários vai muito além que a dos zoos que se transformam hoje em ecoparques e onde só muda o nome.  Nos ecoparques a mudança é pequena se comparada ao que fazemos no SEB.  Veja o exemplo do eco parque de Mendoza, na Argentina, que é aberto à visitação pública. Nele o espaço ainda é pequeno para os elefantes, de modo que não deixa de ser um zoo. Aqui no santuário é muito diferente, os animais mostram isso”.

RESGATANDO A DIGNIDADE ANIMAL

O SEB, tão organizado quanto encantador, é administrado de perto por Scott Blais, que encontrou na Chapada dos Guimarães o local perfeito para montar o Santuário na América do Sul. Presidente do Global Sanctuary for Elephants (GSE), organização sem fins lucrativos sediada no Tennessee/EUA, ele veio para o Brasil com Kat (vice-presidente do GSE) justamente para implantar o projeto do santuário sul-americano. O casal passou a trabalhar no desenvolvimento do Santuário de Elefantes Brasil, com um novo conceito de sistema para acolher e reabilitar elefantes cativos resgatados. Sobre a proposta do santuário, anunciada no site elefantesbrasil.org.br, Scott explica o que significa a frase “ajudando elefantes a ser elefantes de novo”:

“Nossa missão é proteger, resgatar e proporcionar um santuário de ambiente natural para os elefantes em cativeiro do Brasil e da América do Sul e nossos objetivos são: desenvolver e manter um santuário de ambiente natural, amplo e progressista, que estimule fisicamente os elefantes, lhes propicie um ambiente socialmente dinâmico, onde possam expressar seus comportamentos naturais e se recuperar dos anos de cativeiro e criar oportunidades para aumentar o conhecimento do público sobre sua inteligência, cognição, comunicação e comportamento social. Realizamos isso através de pesquisa, defesa e compartilhamento de conhecimento”.

Elefanta manifestando comportamentos naturais no SEB (Foto: Laerte Levai) 

Na conversa transcorrida na sede do santuário, com o Jus Animalis, Scott reafirmou que o trabalho do SEB está assentado em quatro pilares, que são os seguintes: 1) amplos espaços abertos (para que os elefantes possam explorá-lo e fazer descobertas); 2) ambiente emocionalmente estimulante (que encoraja os animais a agir); 3) estímulo ambiental e físico (capazes de induzir comportamentos como se os elefantes estivessem em seu habitat natural); e 4) companhia de uma manada (dado revelador de que não estão mais sozinhos). E para saber melhor como isso funciona na prática, a reportagem o acompanhou de carro até outros pontos que permitiam uma visão panorâmica do santuário e seus recintos já prontos para receber futuros elefantes.

Scott também explicou, durante a visita jornalística, que nesse processo voltado à psicologia de recuperação dos animais acolhidos, “que não há como saber como os elefantes vindos de cativeiro realmente são, a não ser que eles recebam espaço e tempo para que possam exercer sua autonomia”.  O santuário possibilita a eles, na rotina diária, essa “gradual tomada de decisões, das mais simples às mais complexas”. Para alguns elefantes cujo histórico de vida foi marcado por violência ou privações, o processo pode ser difícil, mas não impossível. “Pode até levar anos, mas o ser maravilhoso que eles se tornam no final permite que vivam o resto de suas vidas realmente em paz”, conclui Scott.

Brete de contenção usado também no tratamento dos animais (Foto: site SEB). 

Quando chegam ao SEB, após viagens que às vezes levam dias na estrada, os elefantes passam pela fase de adaptação ao novo ambiente. Há recintos preparados para o recebimento deles, todos devidamente licenciados pelo órgão ambiental. Para viabilizar a avaliação veterinária foram construídos bretes de madeira que servem como barreira de contenção, também, para a segurança dos médicos veterinários e tratadores. A diversidade de recintos se justifica caso seja preciso separar animais que se desentendam ou briguem. Passados alguns dias os elefantes, espontaneamente, já começam a sair para explorar o espaço do entorno. Alguns deles logo adentram na mata ou vão se banhar no lago pela primeira vez na vida. Sobre isso Scott costuma sempre dizer:

“A linguagem dos elefantes envolve muitas expressões faciais e nós precisamos agir com sensibilidade para compreendê-las. Saber respeitar o espaço e o tempo deles desde o momento que adentram no santuário. Trabalhamos com total respeito a eles, por isso ficamos de preferência à distância. São animais que sofreram muitos traumas e sua capacidade de recuperação varia de um para outro. Mas a natureza ajuda nessa adaptação rapidamente. Quando chove, é muita alegria aos elefantes. Sentir neles essa gratidão pelo cuidado oferecido é algo emocionante”.     

Cada elefanta que vive hoje no santuário possui um modo particular de ser e de interagir.  Afora Guillermina, nascida em zoo e agora com 26 anos, as outras habitantes estão na maturidade ou mesmo na velhice.  Maia tem cerca de 50 anos e veio de um circo, onde a chamavam de “menina má”. No santuário, quando chegou em 2016, mostrou-se receptiva, curiosa e gentil, adaptando-se perfeitamente ao ambiente. Rana, de 65 anos, é outra que passou décadas utilizada em circo e desde 2018 vive no santuário, ajustando-se bem às necessidades das outras habitantes. Mara, de 58 anos, que tinha um comportamento agressivo em seu passado circense, adora vocalizar e se transformou em animal tranquilo e doce. As duas agora são inseparáveis... Já a Bambi, de 60 anos, após padecer por tanto tempo em circos e zoos, demonstra estar feliz no santuário.     

Rana e Mara caminhando juntas no santuário (Foto: site SEB)

Quem está sempre perto delas para acompanhar sua saúde e alimentação, prescrever suplementos, vitaminas e probióticos ou realizar tratamentos com florais de Bach, é o médico veterinário Matheus Bianchini, que pode falar com mais propriedade sobre a saúde física e psicológica de cada uma. Não se pode esquecer que o fator idade e as condições do cativeiro de onde as elefantas vieram têm tudo a ver com o surgimento de problemas físicos, sobretudo nas articulações, nas patas e nas unhas.  Rana, a elefanta mais velha do SEB, apesar de estar bem de modo geral, já apresenta problemas crônicos nas patas, sobretudo nas unhas. Matheus conta que a falta de tratamento agrava tais anomalias:

“Essas doenças se originam pela ausência de cuidados adequados e, sobretudo, pela permanência do animal em cativeiro, onde a falta de movimentação o impede de desgastar naturalmente as unhas, o que pode gerar infecção óssea. Com relação à Rana é preciso dizer que no santuário nós a tratamos com reforço positivo, lembrando que no brete ela própria nos oferece a pata para ser casqueada. Também oferecemos um apoio imunológico mediante suplementação alimentar, acompanhando mediante coletas periódicas de sangue e análise do hemograma”.         

A sexagenária Bambi já não enxerga de um olho em razão de catarata, que adquiriu bem antes de chegar ao santuário.  Sua visão está parcialmente comprometida, mas os estudos oftalmológicos não constataram a evolução da doença no outro olho. Os procedimentos veterinários que estão sendo adotados no SEB, com apoio técnico de especialistas de elefantes, são acessados em rede pelo mundo inteiro.  A troca de conhecimentos técnicos parece ter surtido efeito em relação ao problema ocular de Bambi, de modo a evitar os sérios riscos de uma operação de córnea em animal já idoso. Não se sabe como ela desenvolveu a doença, mas ao que tudo indica o zoo de Ribeirão Preto não a tratou como deveria.

É certo que muitas das moléstias que acometem os elefantes estão associadas ao cativeiro ou à falta de cuidados. Afinal, nos zoos os animais passam a maior parte do tempo em superfícies de cimento, sem ter espaço suficiente para se movimentar, não dispondo tampouco de tratamento veterinário especializado no caso de infecções nas patas ou nos olhos, tais como as moléstias constatadas em Rana e Bambi. As condições adversas de vida costumam gerar nos animais, sobretudo no ambiente de circos e zoológicos, comportamentos estereotipados, como explica o veterinário do SEB: 

“Não se pode negar que o histórico negativo às vezes fica para sempre no elefante, embora isso possa se reduzir ao longo do tempo. O comportamento estereotipado, por exemplo, mostra que o animal tem vontade de desempenhar um comportamento natural de sua espécie, mas é impedido pelo cativeiro, o que o faz andar em círculos ou, no caso específico dos elefantes, balançando-se de lado a lado, na busca de um conforto emocional”.

A saudosa Lady comendo frutas no santuário (Fotos: site SEB) 

Pelo que se percebeu na reportagem de campo, todas as elefantas que habitam o santuário vivem em um ambiente de tranquilidade. Assim também foi com Lady, Pocha, Guida e Ramba, que deixaram muita saudade.  Sempre tiveram à sua disposição espaços abertos para muitas descobertas e a possibilidade de interagir quando quisessem, coisa que jamais teriam se ainda estivessem em circos, zoológicos ou ecoparques. A experiência de campo comprovou que o sistema de vida em santuário tem sido, no Brasil e no mundo, o melhor para os elefantes cativos que são resgatados e acolhidos. Nas conversas mantidas com o médico veterinário do SEB, Matheus Bianchini, que acompanha diariamente a rotina e o comportamento das queridas habitantes do santuário, o Jus Animalis descobriu muita coisa da personalidade de cada elefanta. 

A jovem Guillermina, que veio com sua mãe Pocha do EcoParque de Mendoza, na Argentina, sempre foi muito insegura e permanecia na defensiva em termos de interação social.  Bambi, ao contrário, desde logo se animou com o novo lar e quis fazer amizades, desfazendo a impressão pessimista daqueles que queriam mantê-la no zoológico de origem. Maia, que sofrera em circo e zoo, entristeceu demais com a perda de sua amiga Guida, recuperando-se no ambiente do santuário. Mara acabou se aproximando de Rana. Mas outra grande amizade que se vê no santuário é entre Bambi e Maia, que sempre andam juntas. Quando Bambi vocaliza, Maia vem correndo na hora. Hoje pode-se dizer que todas elas estão integradas, plenas e felizes. 

UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA 

O ideal de uma vida plena acaba quando se confina um animal, inserindo-o em um ambiente artificial restrito que se torna entediante. É exatamente isso o que se vê nos zoos, onde os bichos expostos ao público vivem em pequenos espaços que os impossibilita de exercer as potencialidades inerentes à sua espécie. A Lei federal nº 7.173/83, conhecida como Lei dos Zoológicos, reforçou no Brasil esse triste estado de coisas, tanto que seu artigo 1º o legislador normatizou a função recreativa da fauna ao definir jardim zoológico como “qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou semiliberdade e expostos à visitação pública”. Sim, o legislador escreveu “coleção de animais”, como que instrumentalizando os bichos expostos como atração popular.  

Acontece que na caminhada rumo ao que se entende por justiça não há mais espaço para acreditar que o direito é exclusivo do ser humano, que a natureza é um recurso destinado à exploração ou que a moral se contenta com a concessão efetiva de deveres indiretos para com outros seres em situação de vulnerabilidade. Expandir o alcance da ética, para que ela ultrapasse a barreira das espécies, é fundamental à própria evolução humana. Defender a natureza e os animais pelo próprio valor deles é mais digno, porque a ética plena não possui fronteiras, e a verdadeira justiça não discrimina seus beneficiários.

A expansão dos direitos fundamentais para alcançar os animais representa um avanço ético sem precedentes na história. Mas essa mudança exige um afastamento do paradigma antropocêntrico, que estigmatiza as demais espécies sob o argumento de que elas existem para servir ao homem. No caso específico dos elefantes em cativeiro, destinados ao entretenimento público, há uma violência à natureza intrínseca dos animais submetidos. O Direito Animal surge então para restabelecer a noção do justo. E se há resistência ao exercício desse direito, como se viu vinte anos atrás em casos relacionados a circos e zoos, abre-se a possibilidade jurídica de se ajuizar ações em defesa dos animais. 

Apenas na primeira década deste século é que foram propostas as primeiras ações civis públicas para impedir o uso de animais em circos. Isso se deu na comarca de São José dos Campos/SP, onde todas as companhias circenses que chegavam à cidade foram processadas pela promotoria de justiça. Se antes os juízes se mostravam resistentes à ideia de reconhecer direitos aos animais, com o passar do tempo eles fizeram os circos se absterem da apresentação de bichos nos espetáculos. Julgaram em favor dos animais, na época, os magistrados Luís Maurício Sodré de Oliveira (processo nº 585/2003, 3ª Vara Cível), Ana Paula Theodosio de Carvalho (processo nº 906/2005, 5ª Vara Cível) e Gustavo Alexandre da Câmara Leal Belluzzo (processo nº 1071/2006, 6ª Vara Cível).  

Nas sentenças proibitivas do uso animal nos espetáculos – e que incluíam também os elefantes – os referidos juízes paulistas foram além dos interesses econômicos do circo para considerar que a questão de fundo se projetava, sobretudo, no âmbito biológico, psíquico e comportamental dos animais cativos. Nessas ocasiões determinaram não só que as companhias circenses deixassem de usar animais, mas que também adotassem medidas para que os animais silvestres ou exóticos incorporados ao plantel fossem encaminhados para local adequado à sua natureza. Naquele tempo, diante da falta de opções melhores, o destino dos bichos era sempre os zoos. 

Muitos anos depois, representantes de uma associação protetora visitaram Bambi no zoológico de Ribeirão Preto, decidindo interceder em favor dela. A elefanta já sofria de catarata e seu estado de saúde, segundo o zoo, recomendava a permanência do animal no próprio recinto. Em face do agravamento das condições físicas de Bambi e a importância de ela ser encaminhada a um santuário, a ONG buscou ajuda no Ministério Público local. Como o promotor de justiça do meio ambiente não ingressou com nenhuma medida de salvaguarda ao animal, em 2020 o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal decidiu agir por conta própria, ajuizando ação civil pública contra o Município de Ribeirão Preto na expectativa de conseguir a transferência de Bambi para o Santuário de Elefantes Brasil.

 Sucede que o juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de Ribeirão Preto não se mostrou favorável ao direito de Bambi viver seus últimos anos em um lugar tranquilo, tendo decidido pela manutenção do animal no zoológico, tal qual entendia o promotor do meio ambiente da comarca. Inconformado com a sentença, a organização não-governamental autora interpôs recurso de Agravo de Instrumento junto ao Tribunal de Justiça. E para a sorte de Bambi, o desembargador Roberto Maia, da 2.ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente, autorizou a transferência da elefanta ao Santuário da Chapada dos Guimarães, sob o fundamento de que as imagens e laudos técnicos constantes dos autos davam plausibilidade às alegações de maus-tratos caso a elefanta permanecesse no zoo. 

E assim a elefanta Bambi – contrariando todas as previsões pessimistas de que não aguentaria a viagem em razão de sua idade e saúde fragilizada - embarcou no comboio que a levou ao paraíso da Chapada dos Guimarães. No SEB ela vem sendo muito bem tratada das moléstias adquiridas no cativeiro e se encontra hoje bem melhor fisicamente, feliz e integrada ao ambiente do santuário. Graças à decisão sensível de um desembargador consciente, a justiça foi feita para um animal que sofreu durante a vida toda e que, mesmo assim, vinha tendo negado seu direito a viver em paz.   

Que o desfecho positivo do caso Bambi possa nortear um outro processo que se encontra em andamento com o mesmo objetivo, referente ao elefante asiático Sandro, que se encontra no zoo de Sorocaba. Em 2022 o promotor de justiça do meio ambiente, Jorge Marum, acionou o município (responsável pelo Parque Zoológico Quinzinho de Barros) pleiteando a transferência do animal para o Santuário de Elefantes Brasil. Como afirmado pelo Ministério Público no processo nª 1010896-59.2022.8.26.0602, no santuário o elefante Sandro, de 50 anos, poderá enfim viver mais próximo à sua natureza, tendo junto a si solo natural, mata nativa e alimentação diversificada, com livre acesso a bebedouros, tanque e lamaçais, além de um riacho sazonal e uma lagoa que certamente trariam benefícios à sua saúde física e psíquica.

Campanha para a transferência do elefante Sandro ao SEB (Fonte: ONG Olhar Animal)

Na contestação, o município de Sorocaba alegou, de modo infundado, que o SEB não possui estrutura para receber o elefante e que a transferência, por si só, representaria um risco à sobrevivência de um animal idoso e doente. O pior é que o juiz da Vara da Fazenda Pública de Sorocaba, sem sequer aceitar a realização de perícia médico-veterinária no animal ou determinar a produção de provas no processo, preferiu julgar a ação improcedente, o que em termos práticos manteve Sandro confinado no zoo. E lá se vão 3 anos dessa decisão que negou justiça a um animal que tanto merece um lugar digno para viver. Para tentar reverter isso, houve recurso do Ministério Público. 

Em abril de 2023 o desembargador do Tribunal de Justiça, Celso Ayrosa, da 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente, anulou a decisão originária e fez com que o processo retornasse ao juízo de Sorocaba para a produção de provas requerida pelo promotor, ou seja, a realização da perícia técnica judicial. Acontece que até agora ainda não se definiu um perito para a elaboração do laudo. Tal circunstância tem deixado a situação de Sandro indefinida, ainda mais quando se sabe que no santuário ele já estaria sendo tratado por especialistas e certamente integrado ao ambiente. Espera-se que, em 2025, tudo se resolva para a transferência do elefante ao SEB. E que seja feita justiça, ainda que tardia.

SANTUÁRIO: CUIDADOS E BEM-ESTAR

Nunca é demais enfatizar que em todo o mundo a concepção tradicional de zoológicos está mudando a olhos vistos, a fim de que os animais expostos à visitação não mais permaneçam confinados em jaulas e que tenham à sua disposição espaços abertos para movimentação. É o que ocorre nos chamados zoos progressistas dos Estados Unidos e da Europa, que romperam com a ideia arcaica da exposição de animais nos moldes de vitrines vivas. Olhando para a realidade do Brasil e, mais especificamente, para o zoológico municipal de Sorocaba, pode-se dizer que este estabelecimento está pelo menos uma década atrás dos zoos progressistas. 

Um fato comprovado cientificamente é que os elefantes, em seu meio natural, andam e pastam de 15 a 18 horas por dia. No zoo de Sorocaba, onde está o elefante Sandro, a rotina do animal é bem diferente, seja em relação às possibilidades de movimentação, seja quanto à dieta e periodicidade da alimentação, seja em relação aos tratamentos veterinários ministrados. Basta dizer, ali Sandro é recolhido ao fim da tarde e permanece em seu recinto de cimento até a manhã seguinte. Especialistas em elefantes afirmam, aliás, que o piso duro, de concreto, é o responsável pela maioria das doenças nas patas e nas articulações dos animais cativos, cuja movimentação acaba seriamente limitada. Em termos de qualidade de vida aos elefantes, não há dúvida de que os santuários são bem melhores do que os zoos.

 No aspecto nutricional, segundo o veterinário Matheus Bianchini, cada elefante é acompanhado de acordo com as suas particularidades e condição física. O capim, obtido no próprio ambiente em que os animais circulam, é o principal alimento dos elefantes. Além dessa forragem natural, eles recebem, no santuário, uma dieta suplementar baseada nas dietas prescritas pelo The Elephant Sanctuary do Tennessee, que incluem vitamínicos e suplementos probióticos para articulação e apoio imunológico. Afora a alimentação é muito importante o desenvolvimento de musculatura nos animais, a fim de fortalecê-la. A constante movimentação deles pela área do santuário, que é extensa, não deixa de ser um exercício espontâneo para a melhoria das articulações e das patas.    

No quesito de assistência veterinária especializada, o Santuário de Elefantes Brasil também é uma referência, onde o trato mais adequado dos animais segue também a literatura especializada em biologia, medicina e cirurgia de elefantes, observados os protocolos sanitários e os parâmetros laboratoriais adotados.  O médico veterinário do SEB contou que ali os elefantes passam por exames clínicos-laboratoriais constantes e são obtidos diagnósticos regulares, avaliando-se nos hemogramas os resultados das coletas de sangue, urina e fezes. Em relação às patas, imagens térmicas são geradas por equipamento radiográfico interno para aferir sua condição.

Essa maior preocupação com as patas dos elefantes cativos – problema que afeta Sandro no zoo de Sorocaba - não pode ser menosprezada. Para os especialistas em elefantes, nos zoos os animais não se exercitam, os tratadores não ministram os cuidados suficientes e a superfície dos recintos é imprópria. Tais aspectos se somam às condições anti-higiênicas e à umidade do cativeiro, às deficiências alimentares e ao surgimento de comportamentos estereotipados nos animais, gerando ou agravando seus problemas de articulação. A gradativa perda das defesas imunológicas do organismo de um animal cativo e sem acompanhamento especializado pode acarretar, enfim, a disseminação de infecções. 

O espaço disponibilizado no SEB, que supera e muito o de qualquer zoo ou ecoparque brasileiro, possui uma lagoa de substrato natural, árvores, arbustos e capim em abundância, o que permite a reconexão dos elefantes com o ambiente a seu redor. Pelo que a reportagem do Jus Animalis pôde constatar no local, o recinto construído para abrigar Sandro já está pronto e licenciado, lembrando que toda a estrutura do santuário foi devidamente aprovada pelos órgãos competentes – IBAMA, SEMA, MAPA e CRMV. Em outras palavras, o aparato material, logístico e médico-veterinário para a recepção e garantia do bem-estar de Sandro se encontra à disposição dele e dos outros elefantes que deverão chegar ao santuário.    

É preciso ainda enfatizar o trabalho dos tratadores. Embora os elefantes do SEB tenham grandes espaços para circulação, os funcionários ingressam no habitat com um trailer e limpam o esterco quando os elefantes são transferidos com segurança para outra área. Eles realizam esta tarefa todo dia e, durante o monitoramento que também é realizado com câmeras infravermelhas, pode-se verificar eventuais anormalidades na manada ou no ambiente circundante. O fato de o SEB possuir gente residindo no próprio local facilita a tomada de qualquer ação emergencial ou atendimento aos elefantes, o que não costuma ocorrer nos zoos. 

Cabe também dizer que a socialização no santuário é uma opção de cada elefante. No SEB os elefantes que chegarem poderão sentir o cheiro de outros elefantes e interagir com eles. Na natureza os machos costumam se integrar a manadas de outros machos. Embora no santuário os recintos de fêmeas asiáticas e dos machos que estão por vir sejam separados, há um corredor de conexão entre eles que possibilita um contato entre os gêneros ao longo de uma barreira comum, observando que a edificação feita no SEB foi feita para receber adultos machos asiáticos.  Sandro terá, portanto, a oportunidade de socializar com outro macho, desde que ambos queiram.

Por tudo isso não há como sustentar tecnicamente que, para os elefantes, zoos ou ecoparques constituam ambientes melhores que os santuários. Não o são. Matheus Bianchini, experiente no trato de grandes animais, é um especialista credenciado para estabelecer parâmetros comparativos – em termos de maior efetividade para a obtenção do bem-estar animal – entre o sistema de zoos, ecoparques e de santuários.  Ele não tem dúvidas do que é melhor para os elefantes: 

“Ecoparque representa uma mudança se comparada aos zoos tradicionais. Mas essa mudança é pequena.  Os elefantes são seres extremamente sociais e inteligentes, precisam muito de liberdade e interação para ter a mente saudável. Isso também reflete positivamente no corpo. O espaço necessário a um santuário é amplo e existe o ambiente seguro para eles fazerem descobertas e interagirem entre si. Eis aqui o tripé do bem-estar: físico, mental e emocional. Queira ou não, zoos e ecoparques não deixam de ser um cativeiro aberto à visitação pública, onde o espaço será sempre pequeno para as necessidades vitais de um elefante.”   

O pensamento favorável aos santuários de animais para a acolhida de animais cativos vem se tornando recorrente no mundo. Basta citar um caso judicial inédito que tramita nos EUA. Como noticiado pelo Jus Animalis, em novembro de 2024, o grupo Nonhuman Rights Project (NhRP) ingressou com habeas corpus em nome de cinco elefantes que se encontram no Cheyenne Mountain Zoo (CMZ), do Colorado/EUA, pleiteando a soltura deles em um santuário credenciado. Na petição consta que Jambo, Kimba, LouLou, Lucky e Missy foram retirados do habitat na África, quando bebês, o que viola seu direito constitucional à liberdade assegurada na Constituição norte-americana. Como o pedido foi negado pelo juiz, sob o fundamento de que o termo pessoa se limita apenas a seres humanos, o grupo defensor dos animais recorreu à Suprema Corte do Colorado, que em breve deverá julgar o caso.

“VEM PRA MANADA!”

A objeção mais comum dos zoológicos e zooparques que se opõem à transferência de seus elefantes ao santuário é a de que os animais, em razão de idade avançada, doenças adquiridas ou fragilidade física em geral, padeceriam muito durante a viagem e talvez nem sobrevivessem a ela. Tal justificativa foi apresentada pelo zoológico de Ribeirão Preto quando se recusou a ceder a elefanta Bambi ao SEB, sendo necessária a propositura de uma ação judicial para assegurar o direito do animal de viver em um refúgio onde pudesse se recuperar física e emocionalmente dos anos que passou cativo em circos e zoos. Ao final, ficou comprovado que a tese do Município e seus técnicos estava errada, porque Bambi obteve a devida autorização judicial, chegou bem ao destino, gostou do novo ambiente e logo socializou com outras elefantas. 

O mesmo drama se repetiu, logo depois, no caso Sandro. A condição deste elefante asiático mantido no zoo municipal de Sorocaba, após a morte de sua companheira Haisa, sensibilizou o promotor do meio ambiente da comarca, que pediu sua transferência para o SEB. O zoológico não aceitou a recomendação do Ministério Público e se opôs à cessão do animal, alegando que Sandro apresenta doença crônica nas patas e que não aguentaria uma viagem de longa distância. Apesar de ter sido apresentado, no processo judicial movido pela promotoria, o plano de transporte do animal e todos os seus detalhes logísticos, o Município de Sorocaba permaneceu intransigente em aceitar que um elefante já idoso pudesse viver o tempo que lhe resta em um santuário. 

É importante deixar claro que o comboio terrestre voltado ao transporte de elefantes envolve um planejamento cuidadoso que passa por diversas etapas e prioriza, acima de tudo, os cuidados com o animal transportado em um contêiner projetado especialmente para esse fim, segundo os modelos que vêm sendo adotados em transportes internacionais. Sempre que for necessário realizar uma nova transferência a equipe de operação terrestre do Santuário de Elefantes Brasil, comandada por Scott Blais, conta com operadores de transporte, veterinários e biólogos. 

Na fase que antecede a viagem são obtidas, documentalmente, as autorizações de todos os órgãos ambientais competentes, como o Ibama, a superintendência local do Ministério da Agricultura e Pecuária, responsável pela emissão do Guia de Trânsito Animal. Também são providenciados documentos dos zoológicos e prefeituras envolvidas e das Secretarias Estaduais de Meio Ambiente. Por fim, durante o transporte é solicitado apoio de escolta junto à Polícia Rodoviária Federal, para garantir a necessária segurança ao longo do trajeto. 

Se todo o cronograma da operação de transporte é definido semanas antes, estabelecendo-se o percurso, o tempo de duração, as paradas estratégicas e os locais de pernoite da equipe, a mesma cautela precisa levar em conta a distância e os cuidados com o elefante transportado. O comboio que transferiu a elefanta Rana, vinda de Sergipe, percorreu 3.300 km ao longo de 5 dias de viagem, mais ou menos o mesmo percurso das elefantas que vieram da Argentina. Já em relação a Bambi, a operação de transporte levou 2 dias e percorreu cerca de 1.200 km de Ribeirão Preto a Chapada dos Guimarães. No caso de Sandro, ora no zoo de Sorocaba, a duração da viagem seria bem parecida a de Bambi.    

A parte mais delicada no processo de transferência de um elefante geralmente acontece dias antes da saída do comboio, período em que o animal precisa se acostumar à caixa do contêiner deixada em seu próprio recinto no zoo. Isso se chama período de aclimatação, quando é dado ao elefante o tempo necessário para conhecer o contêiner. No caso de Bambi a adaptação levou uma semana. Somente após essa fase e, com o animal tendo ingressado espontaneamente no recinto, a caixa é içada e colocada cuidadosamente no caminhão de transporte. Tais etapas precisam ser feitas com muita cautela para não estressar o elefante. Aí sim é que começa a viagem. 

Scott Blais explica que o contêiner de viagem projetado pelo SEB contém pequenas portas que permitem o acesso em caso de emergência ou para atendimento ao longo do caminho; ele ainda possui alças de içamento embutidas no piso, caso sejam necessárias, além de um recipiente de água para dessedentação do animal. Há também câmeras para constante monitoramento do animal. As portas dianteiras e traseiras do contêiner podem ser abertas para alimentação e limpeza, permanecendo a segurança com portões internos. “A experiência de mais de 50 realocações de elefantes nos ensinou a importância do design da caixa e a diferença que isso faz na segurança de viagem”, observa Scott.

Caixa de transporte para elefantes (Fonte: SEB)

Desenho do contêiner de viagem com elefantes (Fonte: SEB)

A cada elefante transportado costuma ser disponibilizada água no mínimo quatro vezes ao dia, além de feno, capim fresco, ramos, bambu, frutas e vegetais. Na viagem de Bambi, que foi a mais recente feita pelo santuário, a caixa de transporte permaneceu fechada durante o trajeto. Toda alimentação e água foram ministradas pelas portas laterais do contêiner. A limpeza da caixa foi realizada durante as paradas, através da abertura da porta externa traseira e com o portão interno fechado, para que o animal não pudesse sair. Deste modo, não houve qualquer intercorrência que pudesse atrapalhar a operação de transporte.

O biólogo do Santuário de Elefantes Brasil, Daniel Moura, é especialista em manejo e conservação de animais silvestres e desenvolveu em seu trabalho de conclusão de curso o Manual de Transporte Ético de Elefantes. Ele participou de todas as operações de transferências de elefantes realizadas pelo SEB de 2016 até 2020. Como responsável técnico e encarregado de todos os contatos preliminares relacionados à obtenção de documentos e autorizações necessárias ao transporte, Daniel também costuma assumir o papel de porta-voz e comunicador oficial das etapas da viagem perante a mídia e o público em geral. No caso de Bambi a maior alegria, segundo ele, deu-se na chegada ao santuário:

“Logo que a caixa de transporte foi aberta, Bambi saiu rapidamente e entrou no centro veterinário, cuidadosamente preparado com muita terra, água e vegetação para que pudesse escolher o que mais lhe agradasse. Brindou-se com muita terra e água para se refrescar, e depois alimentou de diversas folhas e algumas frutas espalhadas pelo local”.

Elefantas Maia e Guida se banhando no lago (Foto: site SEB)

Bambi, a exemplo das outras elefantas do SEB, alcançou a felicidade que tanto merecia. Mas agora falta Sandro, que permanece no zoo de Sorocaba à espera de uma decisão favorável da justiça.  Espera-se que a nova sentença não demore muito a sair, porque o santuário já tem tudo pronto para seu recebimento e não há dúvida de que a transferência será uma coisa boa para o elefante.  Perguntado pelo Jus Animalis a respeito desse animal, se o conhece e se acredita que sua viagem de transferência até o santuário representa algum risco à sua saúde, Daniel Moura foi taxativo:  

“Conheço, sim.  Acompanhamos o Sandro há alguns anos. Sandro é o único macho da espécie asiática no Brasil. Estamos acompanhando o processo, iniciado pelo Ministério Público de Sorocaba, desde o início. Apresentamos o plano de transporte do Sandro para a prefeitura de Sorocaba e para o MP, além de todo nosso histórico de transferências, manejo e o habitat, onde o Sandro poderá ficar, caso vá para o SEB. A nossa caixa de transporte é adaptada e segura para transportar elefantes machos, que geralmente são maiores que as fêmeas. Não sabemos exatamente como está a saúde do Sandro, mas aparentemente, nada que pudesse impedir sua viagem, bem como sua idade não é um fator de risco. A duração da viagem levaria em torno de 2 dias e a aclimatação do Sandro à caixa de transporte, ainda no zoológico levaria em torno de 3 a 5 dias em média. Essa etapa é crucial para que ocorra uma viagem segura. Em resumo, está tudo pronto para que o Sandro seja transferido para o SEB, depende apenas da decisão da justiça. O habitat dele já está pronto e licenciado há alguns anos, contando com milhares de metros quadrados de floresta e vários corpos d´água. Um paraíso o espera, mas infelizmente o egoísmo das pessoas tem atrapalhado muito este processo”.

E para encerrar esta reportagem, uma boa notícia. O SEB receberá, em breve, duas elefantas africanas que se encontram em zoos na Argentina: Pupy (em Buenos Ayres) e Kenia (em Mendoza). A autorização de importação foi concedida e deve ocorrer no primeiro trimestre deste ano, tanto que as caixas de contêiner do santuário já foram encaminhadas ao país vizinho. Em solo brasileiro haverá apoio da Polícia Rodoviária Federal para que os animais cheguem ao destino com segurança. Nessa operação internacional que envolverá uma viagem bastante longa, como pondera Scott, a equipe do santuário será dividida em 2 grupos:

“A primeira equipe vai até a Argentina realizar todos os preparativos de aclimatação das elefantas que seguirá viagem até a fronteira entre Argentina e Brasil, na cidade de Foz do Iguaçu, onde encontrará com a segunda equipe, que estará cuidando de toda a documentação aduaneira com os órgãos ambientais, IBAMA, MAPA e a Receita Federal, bem como de toda a logística em solo brasileiro, além de toda a alimentação que será utilizada pelas elefantas durante o trajeto.”

Manada de elefantas no Santuário de Elefantes Brasil (Foto: site SEB)

Que 2025 possa ser um ano de grandes avanços no reconhecimento dos direitos animais. No caso das espécies exóticas, como os elefantes, muitas nações do continente americano e europeu já estão reconhecendo que elas merecem viver em ambientes mais próximos possíveis de seu habitat. E esse lugar de refúgio e segurança, onde eles poderão usufruir de autonomia, paz e tranquilidade, são os santuários. O Santuário de Elefantes Brasil, único que existe em nosso país, desenvolve de modo exemplar esse trabalho, tão árduo quanto gratificante, voltado a propiciar dignidade dos animais.

Espera-se que em breve Pupy, Kenya e Sandro possam dividir o mesmo solo sagrado da Chapada dos Guimarães com Maia, Mara, Rana, Bambi e Guillermina, demonstrando que projetos sérios, sonhos aparentemente impossíveis e belas causas são o que movem o mundo para melhor, porque são capazes de inspirar e transformar. A todos os elefantes ainda cativos num mundo repleto de abusos e injustiças, resta o chamado dos santuários: “Vêm pra manada!”

Laerte F. Levai, repórter do Jus Animalis, e Scott Blais, presidente do SEB


Edição: Jus Animalis

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LAERTE F. LEVAI

Jornalista ambiental (DRT n. 96682/SP). É repórter do Jus Animalis.

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