Adolescentes são presos por crimes de incentivo à automutilação e crueldade contra animais em plataformas online
Dois adolescentes, de 15 e 16 anos, foram apreendidos nesta quarta-feira (16) em uma operação que apura crimes de incentivo à automutilação e crueldade contra animais em plataformas online. De acordo com as investigações, os suspeitos administravam servidores onde os atos eram transmitidos ao vivo. Foi identificada ainda mensagens de apologia ao nazismo.
As ações fazem parte da operação “Garmr”, realizada pelas polícias civis de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte, com o apoio do Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
As apreensões ocorreram nas cidades de Belo Horizonte e Ponte Nova, em Minas Gerais. Além disso, foi cumprido mandado de busca e apreensão em Açu, no Rio Grande do Norte.
Segundo informações da polícia, em uma das transmissões uma adolescente de 15 anos torturou o afilhado, de cinco anos, atendendo a comandos dados pelos dois adolescentes. Em outros dois casos, uma adolescente foi induzida a atear fogo no próprio braço e a se mutilar usando uma lâmina.
Operação em outros estados
Nesta terça-feira (15), dois homens foram presos e outros seis menores apreendidos por integrarem uma das maiores organizações criminosas do país voltadas à prática de crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes. As ações são resultados da Operação Adolescência Segura, que a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou nesta terça-feira em sete estados, com o objetivo de desarticular o grupo criminoso.
Segundo o delegado Cristiano Maia, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) e responsável pelas investigações, os chamados "servidores" (participantes com menos experiência) desse grupo criminoso vão subindo na hierarquia interna, "galgando posições nessa cadeia".
"Tanto as vítimas quanto os autores são crianças e adolescentes. A plataforma onde funciona esse servidor nasceu em 2015 no Discord, criado, na verdade, para ser uma comunidade voltada para games, tanto que o símbolo é um joystick [controle usado em videogames]. Só que, com o passar do tempo, alguns indivíduos passaram a desvirtuar essa plataforma para o cometimento desses delitos", disse Maia à Globobews.
"Em grande parte dos casos, a motivação é feita para a busca do poder naquele meio em que o indivíduo se encontra. É você buscar um status naquela plataforma, naquele ambiente virtual, e demonstrar o poder e a superioridade de quem pratica esse ato e subjuga as crianças e os adolescentes a praticarem os diversos atos, de automutilação, de maus-tratos aos animais e outros tipos de crime em geral", explicou.
Segundo delegado, a ação é um marco significativo ao enfrentamento a esse tipo de crime, que tem como alvo crianças e adolescentes, que estão mais vulneráveis. Entre os crimes apurados, estão tentativa de homicídio, induzimento e instigação ao suicídio, armazenamento e divulgação de pornografia infantil, maus-tratos a animais, apologia ao nazismo e crimes de ódio em geral.
"Além da sociopatia, tem duas motivações: a questão do dinheiro existe em alguns fatos, isso foi vislumbrado durante as investigações, tanto que, no cometimento deste delito [ataque contra morador de rua, em fevereiro], houve uma promessa de recompensa, tanto para quem ateou fogo quanto para quem filmou o evento", explicou Maia.
As diligências ocorrem em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, com apoio de policiais civis e do CyberLab da Secretaria Nacional de Segurança. A operação cumpre mandados de prisão temporária e de busca e apreensão, além de internação provisória de adolescentes infratores.
O Discord informou que aplicou "as medidas cabíveis, que podem incluir o banimento de usuários e a derrubada de servidores". A plataforma acrescentou ter ferramentas automatizadas de bloqueio de envio de conteúdos que violem as diretrizes da comunidade e argumentou que investe em tecnologias para detectar casos de exploração infantil. A empresa informou que mantém diálogo com órgãos como o Ministério da Justiça e está comprometida em expandir a colaboração para outras autoridades.
Fonte: O Globo