Em respeito às gigantes dos mares
Baleias são mamíferos marinhos, que circulam pelo oceano há 50 milhões de anos, aproximadamente. Registros fósseis indicam que seus ancestrais viveram em ambientes terrestres, próximos às águas e que, no processo evolutivo, passaram a habitar os mares.
Na cultura maori, entre os Ngatiwāi, na Nova Zelândia, contam os mais velhos, que há muito tempo, Tane - o deus da floresta, observando que as baleias, então animais terrestres, gostavam de ficar junto aos rios, resolveu presenteá-las a Tangaroa - o deus do oceano. Então, se tornaram animais aquáticos [1].
Na antiga tradição do Havaí, baleias (“koholā”) eram uma manifestação do rei do oceano, “Kanaloa”, reverenciadas como seres divinos, protetoras espirituais (“aumakua”) [2].
Se hoje é possível observar estes gigantes dos mares, isto se deve ao fim da caça indiscriminada, que ocorreu entre os séculos 13 e 20. Nesta época, o olhar ganancioso e depredatório estava voltado para caçá-las. Provavelmente, você já ouviu nomes como Ponta ou Praia do Arpoador (onde eram arpoadas) e Praia da Armação (onde eram cortadas e cozidas para extração de óleo).
Em 1946, foi criada a Comissão Internacional Baleeira com o objetivo de regulamentar a caça. Mesmo assim, milhares de animais foram mortos. Indignados, ambientalistas de vários países, nas décadas de 1970 e 1980, lutaram pelo fim desta crueldade [3]. No Brasil, a caça foi proibida em 1987, pela lei federal nº 7.643. Três países continuam: Japão, Noruega e Finlândia [4].
No século 21, sentindo-se mais respeitadas, voltaram a ser avistadas no litoral brasileiro, sendo identificadas e estudadas por pesquisadores do ICMBio, do Projeto Baleia a Vista, e dos Institutos Jubarte e Baleia Franca, entre outros. No entanto, suas vidas são ameaçadas por emalhes em quilométricas redes de pesca e por colisão com embarcações.
O turismo de observação de baleias jubartes eclodiu, no Brasil, na década de 1990, em Abrolhos (BA) e, atualmente ocorre no litoral de vários estados [5].
Entre o final do outono e primavera, as espécies que vivem nas águas geladas da região antártica, migram para as águas quentes até o nordeste. É quando os casais se acasalam e, as fêmeas que engravidaram no ano anterior dão à luz e amamentam seus filhotes.
As espécies mais conhecidas são [6]:
A Minke é a menor, com 9 m de comprimento e peso de 9 t. Emitem um som semelhante ao grasnar de patos, debaixo d'água. Consta como espécie quase ameaçada de extinção da IUCN (IUCN Red List of Threatened Species);
A Franca apresenta calosidades (manchas brancas) em suas cabeças. Medem entre 16 e 18 m e pesam de 80 a 96 t;
A Jubarte, também conhecida como “cantora”, tem o hábito de saltar e bater as barbatanas na superfície. Mede entre 13 e 15 m e pesa entre 22 e 36 t. Pode mover até 2/3 do seu corpo fora d’água. Uma das hipóteses para explicar esse comportamento seria que o som do impacto atrairia as fêmeas e demonstraria força entre os machos [7].;
A Fin ou Baleia Comum, é identificada por uma grande mancha branca na mandíbula inferior. Mede de 20 a 27 m., pesa entre 45 e 70 t. Continua sendo caçada pelos japoneses. É citada na lista vermelha da IUCN como espécie vulnerável (Status da Lista Vermelha da IUCN);
A Azul, é a maior de todos os animais do planeta, com seu tamanho médio de 35 m e peso em torno de 160 t. Devido à caça, é a espécie mais ameaçada. São raramente vistas perto da costa. A espécie está na lista vermelha da IUCN (IUCN Red List of Threatened Species);
A Orca não é uma baleia, é a parente “grandona” da família dos golfinhos. Mede em torno de 9 m e pesa cerca de 6 t. É encontrada em todo o oceano.
Normalmente as avistamos quando sobem para respirar. Podemos escutar um som forte e observar um jato no alto de suas cabeças, onde ficam os espiráculos. O ar quente, que estava nos seus pulmões, entra em contato com a temperatura externa, mais fria, e se condensa. Assim, o esguicho que vemos em desenhos animados é uma ilusão. [8] Elas respiram várias vezes, e mergulham novamente. A Minke, fica em torno de 15 minutos debaixo d’água, e a Cachalote, até 90 minutos.
Também podemos avistá-las quando estão se alimentando. Com exceção das baleias dentadas, sua refeição consiste em encher as “bochechas” de água, vindo do fundo para a superfície, empurrá-la para fora com a língua, retendo krill, camarões, lulas e pequenos peixes, por meio das barbatanas (placas de queratina) que possuem na mandíbula superior.
É falsa a crença que engolem humanos, pois a garganta delas é muito estreita. Há relatos de pessoas que ficaram no interior da sua boca e saíram vivas. Cabe enfatizar que a aproximação não deixa de ser uma atividade perigosa às baleias e aos humanos.
Acidentes de colisão podem acontecer quando sobem para respirar. No caso de fêmeas amamentando ou acompanhadas dos filhotes podem se sentir ameaçadas e, quando os machos estão cortejando as fêmeas, é comum baterem com a cauda e as nadadeiras na água. As ondas geradas poderão balançar os barcos e os ocupantes caírem ao mar.
Se fosse com você, ou com seus entes queridos, o que seria preferível, gozar de privacidade ou ser molestado na sua intimidade?
A Lei Federal nº 7.643, de 18.12.1988, proíbe o molestamento intencional de qualquer espécie de cetáceo, e estabelece penalidades para os infratores, incluindo reclusão, multa e perda da embarcação no caso de reincidência. A Lei Federal nº 9.605 de 12.02.1998 – Art. 32, trata de maus-tratos aos animais.
O Decreto Federal nº 6.514 de 22.07.2008 - Art. 30 cita multa R$ 2.500,00 para quem molestar, de forma intencional, qualquer espécie de cetáceo, pinípede ou sirênio em águas jurisdicionais brasileiras.
As Portarias do IBAMA nº 117/1996 e n° 24/2022 instituem regras relativas à Prevenção do Molestamento de Cetáceos, tais como: a vedação da aproximação de embarcações com motor engrenado a menos de 100 metros, devendo o motor ser mantido em neutro; e a proibição de acercar-se de um indivíduo ou de grupo de baleias que já esteja submetido à aproximação, no mesmo momento, de pelo menos, duas outras embarcações.
Vale o alerta para mergulhadores, remadores, pescadores, velejadores e navegantes de modo geral, que mantenham distância segura, pois há registros de baleias e pessoas feridas após a colisão com embarcações.
Em 2015, fiscais do ICMBio multaram proprietários de duas aeronaves por sobrevoarem baleias em Garopaba (SC), na APA Baleia Franca. Em 2023, um vereador de São Sebastião (SP) foi multado por ter navegado muito perto de uma Jubarte. Em 2024, fiscais do IBAMA (SC), multaram motonautas por molestarem baleias [9].
O turismo embarcado para observação de baleias gera benefícios socioeconômicos às comunidades costeiras, porém tem causado muita controvérsia, em especial sobre os danos que podem acarretar a estes animais.
Medeiros e Alburquerque, 2015, com base em estudo de caso sobre o turismo embarcado na APA da Baleia Franca (SC), consideram-no como uma atividade insustentável, mais exploradora de animais não humanos do que educadora ambiental [10].
Gomes, 2021 [11], citando vários pesquisadores, relata que foram observados os seguintes distúrbios: interferência na vocalização, alterações no padrão comportamental de alimentação, socialização e repouso; aumento na velocidade de natação e da frequência respiratória, além do risco de atropelamento.
Gomes, 2021, também cita que, quando o turismo é realizado com o apoio de institutos ou projetos de pesquisa, tende a causar menos impactos negativos. Com base em outros autores, menciona que a satisfação do turista tende a aumentar quando acompanhado de componentes educacionais e condutores de embarcação, que cumprem os regulamentos legais estabelecidos.
Gudergues et al, 2023, com base em pesquisa sobre observação de Jubartes, no litoral da Bahia, concluíram que estratégias de Educação Ambiental, associadas ao turismo de observação de baleias na região de Praia do Forte, atua como importante ferramenta de conscientização local e para turistas [12]. Diretrizes adequadas constam do Guia de Observação do Pró Franca [13].
Concluindo, o que mais importa é preservar, proteger e respeitar a vida marinha.
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Referências
[1] Disponível em: https://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/04/13/143044-na-nova-zelandia-tradicao-maori-da-as-baleias-encalhadas-uma-segunda-vida-em-forma-de-arte.html – acessado em 12.07.2025.
[2] O significado cultural das baleias jubarte no Havaí | Escritório de Santuários Marinhos Nacionais – NOAA, EUA, 30.12.2020, acessado em 12.07.2025.
[3] A proibição da caça de baleias no Brasil: uma luta ativista — Jus Animalis, julho/2025 – acessado em 12.07.2025
[4] País europeu liberou caça às baleias-jubarte até 2029; entenda a decisão | Um Só Planeta | Galileu – 06.12.2024 – acessado em 12.07.2025
[5] Gudergues et al, 2023 - Vista do A importância do Turismo Sustentável como modo de Educação Ambiental: estudo de caso da temporada de baleias no Instituto Baleia Jubarte Praia do Forte (BA) – acessado em 15.07.2025
[6] Baleias Antárticas - Coalizão Antártica e Oceano Antártico – 2022; Animais da Antártica | CIRM – sem data; Centenas de baleias surpreendem uma tripulação da National Geographic na Antártida | National Geographic, 2023; Mamiferos - Oceana Brasil – sem data; todos acessados em 12.07.2025.
[7] Por que as baleias-jubartes gostam tanto de saltar? | National Geographic - 08.11.2017, atualizado em 05.11.2020 – acessado em 12.07.2025. Baleias não borrifam água de seus espiráculos — e outros mitos desmentidos | National Geographic – 05.05.2021 – acessado em 12.07.2025.
[8] Donos de aeronaves multados por molestar baleias | Unidades de Conservação no Brasil – 10.11.2015 – acessado em 13.07.2025.
[9] Donos de aeronaves multados por molestar baleias | Unidades de Conservação no Brasil – 10.11.2015; Vereador é multado pelo Ibama por molestar baleia em São Sebastião - Nova Imprensa – 25.08.2023; Três pessoas são multadas por molestamento de baleias no litoral de SC; entenda | Santa Catarina | G1 – 02.09.2024 - acessados em 13.07.2025.
[10] Vista do Apa da Baleia Franca e o Turismo de Observação de Baleias Embarcado (Tobe): Sustentabilidade ou Exploração Animal? acessado em 17.07.2025.
[11] Turismo de observação de cetáceos no Brasil – acessado em 17.07.2025.
[12] Vista do A importância do Turismo Sustentável como modo de Educação Ambiental: estudo de caso da temporada de baleias no Instituto Baleia Jubarte Praia do Forte (BA) – acessado em 17.07.2025.
[13] Seguindo Baleias - Projeto Franca Austral - Instituto Australis), e do Instituto Baleia Jubarte (https://www.baleiajubarte.org.br/_files/ugd/2d15f2_6d647b894e8444c093f0e5a67ec92fc5.pdf - acessados em 13.07.2025