Entrevista com Nina Rosa

“Por que infligem tanto sofrimento aos animais? Quero exprimir sua dor, para que todos que se importem, para que saibam. E, individualmente, que se neguem a continuar participando disso”.

No mês de dezembro, época que costuma suscitar nas pessoas maior reflexão e votos de solidariedade e mudanças, a entrevistada do Jus Animalis não poderia ser outra: Nina Rosa. Sim, ninguém melhor do que a idealizadora dos documentários A Carne é Fraca, Não Matarás, Vida de Cavalo e Fulaninho, dentre outros, para falar e refletir sobre a relação dos homens com os animais. A palavra-chave que a motivou criar o Instituto Nina Rosa, 24 anos atrás, é justamente aquela que mais precisamos: conscientização. Seus projetos por amor à vida envolvem uma pedagogia sentimental e transformadora, voltada ao respeito a todos os seres. 

Nina Rosa Jacob nos mostra, por sua experiência biográfica, que em algum momento da existência humana o sentido da vida pode se manifestar. Com ela foi assim, já na maturidade, quando a causa animal veio como uma dádiva inspiradora que lhe permitiu fazer toda a diferença na forma de agir e de atuar pelos animais. Para além da defesa dos animais de estimação, dos cavalos e outros bichos explorados, das espécies nativas da terra e do mar, Nina Rosa ousou enfrentar a crueldade institucionalizada nos setores da produção animal e da experimentação científica. E o fez em linguagem cinematográfica, de modo inédito no Brasil.

Os projetos realizados pelo Instituto Nina Rosa falam por si, em documentários críticos ou educativos, nos livros editados, nas intervenções públicas e noutras formas de engajamentos ativistas que denunciam a violência sistêmica perpetrada em detrimento dos animais destinados, culturalmente, a interesses humanos ilegítimos. Esse conjunto de ações fizeram com que o trabalho de Nina Rosa se tornasse conhecido nacionalmente, inspirando muita gente a mudar hábitos e atitudes especistas. Nossa entrevistada, nos bastidores deste bate-papo permeado de lembranças e esperanças, deixou escapar uma de suas melhores definições: “Minha relação com os reinos da Natureza é bem mais espontânea, natural e íntima do que com meus semelhantes humanos. Não tenho formação técnica alguma. Minhas considerações são baseadas em valores e sentimentos. Princípios e emoções”.

 

Jus Animalis – Em algum lugar do passado, ao conhecer de perto a dura rotina das associações protetoras de São Paulo – atividade esta que não tem fim pelo simples fato de atuar sempre nas consequências, nunca na causa – sua percepção começou a indicar a necessidade de ações pedagógicas preventivas. Fale um pouco desse período de transição que acabou por dar um outro rumo em sua vida, levando-a a fundar o Instituto Nina Rosa.

 Nina Rosa – A busca por algum sentido na minha vida tinha começado bem antes... Na adolescência fui bandeirante, o que já me proporcionou alguma noção de como contribuir com atos de bem, acampar, dormir em barracas, conviver. Nessa época eu estudava no Colégio Rio Branco, em São Paulo. E num certo dia, uma de minhas melhores amigas sofreu grave acidente de carro e partiu. Foi minha primeira grande perda tão próxima e isso me abalou muito, a ponto de eu pedir a meus pais que me colocassem num internato. Tinha eu 12 anos de idade. Fui então para o colégio alemão Koelle em Rio Claro, onde permaneci durante um ano.  Voltei então à capital para terminar o ginásio, no Colégio Notre Dame. Em seguida, continuando minha busca, cursei um ano de clássico, depois um ano de secretariado, que não terminei.

Fiz o curso do IADE (Instituto de Arte e Decoração), onde me formei, embora nunca tenha atuado na área. Trabalhei como assistente da diretoria na empresa fundada por meu pai - Pincéis Tigre S/A. Casei e separei 3 anos depois. Realizei trabalhos publicitários como modelo fotográfico durante alguns anos, sempre em busca de algum sentido maior para a vida, mesmo sem ter essa clareza na época. Somente quando descobri o trabalho pelos animais, cerca de 40 anos atrás, é que encontrei minha verdadeira dor, minha verdadeira alegria, minha principal razão de ser e de viver. Após atuar por 6 anos como voluntária em ONGS, já com 50 anos de idade, fundei o Instituto Nina Rosa. Meu amor pela Natureza e por todos os animais, enfim, passou a dar um sentido para minha existência.

Jus Animalis – O ideal da educação humanitária aparece como uma característica que desde cedo norteou as ações do INR, inicialmente com mensagens compassivas nas atividades de interação com crianças e adolescentes, depois com a perspectiva crítica direcionada à conscientização humana sobre determinados hábitos consolidados que provocam muita dor e sofrimento nos animais. De onde veio sua vontade de amar e transformar as coisas, que se relaciona diretamente ao valor da vida e de todos os seres sensíveis?

Nina Rosa – Valorizo muito a norte-americana Zoe Weil, co-fundadora do Institute for Humane Education, pelo trabalho eficaz e muito inspirador que tive a honra de conhecer. Ela é uma pioneira educadora humanitária e nós tivemos a oportunidade de publicar a versão brasileira de seu livro de atividades “O Poder e a Promessa da Educação Humanitária”, que são atividades transformadoras porque convidam a um olhar interior. Essa minha vontade de trabalhar para mudar a forma como são tratados os animais não humanos vem da justa indignação por tanta desconsideração. Mas por que tanta desconsideração? Porque os animais não podem falar? No entanto podem sofrer como nós. Quero então ser a voz deles. Porque eles não podem por se defender de serem explorados como cargas vivas, animais de corte, “frutos do mar”... Então quero ser a defesa deles. São tantas as nomenclaturas para disfarçar a verdade! As empresas que os utilizam fazem de tudo para você não saber a realidade como ela é.

Ao consumir carne animal, independentemente da espécie que for, a pessoa na realidade está se alimentando de cadáveres, de seres que passaram por sofrimento atroz antes de sua carne chegar disfarçada ao açougue, à feira, ao mercado, ao restaurante. Sem possibilidade alguma de reação e sem entender, tão inocentes... Por que infligem tanto sofrimento aos animais? Quero exprimir sua dor, para que todos que se importem, para que saibam. E, individualmente, que se neguem a continuar participando disso. Garanto que vão dormir mais tranquilos, sabendo que não contribuíram para matar ninguém. Nem é preciso comentar sobre a melhora na saúde dos vegetarianos e veganos, pois já existe disponibilizado um vasto material científico disponível sobre o assunto. Eu mesma posso ser exemplo: vegana há muitas décadas, cheguei aos 80 anos com saúde e gratidão pela paz interior.

Jus Animalis – Para além do equilíbrio ecológico e da educação ambiental, sua proposta pedagógica considera os animais também como sujeitos de direito. Dentre os primeiros trabalhos com temática educativa e reflexiva do INR, merecem lembrança os documentários Olhar e Ver, Fulaninho, Um Gato Como Ele É e Vida de Cavalo. De que tratam referidos títulos e qual a mensagem que eles passaram ao público?

Nina Rosa – Desde o início do meu ativismo, aprendi que aquela vontade de ter um terreno enorme para acolher todos os animais desamparados não resolveria a questão do abandono, apesar de ser um trabalho necessário e valioso, principalmente se for aberto a adoções. Deduzi que se o sofrimento dos animais é causado pelos humanos, então estes é que precisam ser sensibilizados. Havia muita falta de conhecimento e informação (ainda há). Daí resolvi trabalhar com informação sensibilizante, voltada à ampliação da consciência das pessoas.

Nosso primeiro documentário foi Olhar e Ver, que aborda os animais domésticos no meio urbano e a proteção animal em São Paulo. Sua proposta foi justamente essa, convidando as pessoas a olhar e ver um animal atropelado na rua, ou necessitando de amparo ou de alguma atenção e cuidados.

Em seguida veio Fulaninho, o cão que ninguém queria, que alertou para o problema da superpopulação animal e a necessidade de esterilização. Mas a principal informação era que animais entregues ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), fosse pelas mais diversas razões, dificilmente teriam uma segunda chance.  Eles eram colocados para morrer em câmaras de descompressão. Fulaninho foi um sucesso devido, principalmente, à boa vontade e atuação do então secretário municipal da saúde - Dr. Eduardo Jorge M. Sobrinho, que possibilitou sua mensagem fosse levada a quase todas as escolas de ensino fundamental e médio das escolas públicas da cidade de São Paulo.

Milhares de crianças viram o filme, sempre acompanhadas do Manual Pedagógico e do Caderno de Brincadeiras. Tudo impresso em papel reciclado pós consumo, pois o exemplo é o melhor professor que existe. Até hoje as escolas do município de Bagé/RS fazem eventos e exercícios com a presença do querido mascote. De minha parte, Fulaninho significou apoiar crianças que têm esse amor pelos animais no coração. Amor esse nem sempre apoiado em casa ou na escola.

O Gato como ele é veio para contar que os felinos não são apegados mais a recintos do que a pessoas.  Cada um tem sua personalidade e suas manias, assim como nós mesmos. Mas uma boa lembrança das gravações do Gato foi a participação totalmente voluntária do ator e diretor Miguel Falabella, que concordou em gravar num mini-estúdio, sob a direção da Denise Gonçalves. Adoramos ele, sua humildade e disposição. O resultado foi ótimo.

O documentário Vida de Cavalo ensina, pela palavra de especialistas, que equídeos (cavalos, burros e jegues) são animais gregários, que detestam ficar presos em baias. Eles gostam de conviver, tocar seus companheiros e ficam muitíssimo melhor em áreas abertas, com espaço para se protegerem da chuva, se quiserem... Ar livre, sombra de árvores, podendo se exercitar quando sentirem necessidade. É uma pena que esses animais, tão ágeis, fortes e sensíveis ao extremo, permaneçam a maior parte do tempo confinados em baias onde só conseguem ficar movendo a cabeça nervosamente para os lados, em aflição. Afinal, cavalos não atacam, sua única via de escape para os perigos é a fuga. E não há como fazer isso trancados em cubículos.

Jus Animalis – Outros dois documentários produzidos pelo Instituto, sob uma perspectiva crítica, são A Carne é Fraca (2004) e Não Matarás (2006), que tratam de temas ainda tabus na área do direito. Quem os dirigiu e editou? E os títulos dos trabalhos, a quem se deve?

Nina Rosa – Quero ressaltar que todos os documentários do INR contaram com o roteiro e a direção sensível da cineasta Denise Gonçalves, assim como a edição corajosa do João Landi.  Ambos os títulos foram sugeridos por Denise e imediatamente acatados, por complementarem de modo perfeito o trabalho proposto e realizado. Eles são simplesmente inspiradores!  

Denise Gonçalves foi um achado na hora certa. Não nos conhecíamos ainda, quando realizei uma reunião no INR convidando representantes de algumas ONGs. A ideia era fazer um documentário sobre a situação da proteção animal em São Paulo. Uma das participantes trouxe Denise, que tinha experiência em roteiros e filmagens. Terminada a reunião, já começamos a imaginar onde e como fazer as gravações. Assim começou uma cooperação e amizade de muitos anos e muitos documentários vieram. 

O João Landi, ótimo cameraman e editor, foi apresentado pela própria Denise.  Ele também passou a fazer parte da nossa equipe, sempre que um novo trabalho documental se mostrava necessário. E às vezes, como no caso de A Carne é Fraca, João varou muitas noites editando e transformando em 60 minutos cerca de 60 horas de gravação que tínhamos feito e que serviu como material para o documentário.

Jus Animalis – Especificamente sobre o documentário A Carne é Fraca, que este ano completa 20 anos, pode-se dizer que ele passou a ser o divisor de águas para muitas pessoas que aderiram ao veganismo, pelo fato de tocar em um ponto crucial do movimento de defesa dos animais. Sinta-se à vontade para comentar.

Nina Rosa – O documentário A Carne é Fraca mostrou a nós do INR que, quando o objetivo é puro, sem nenhum outro interesse a não ser contribuir para fazer o bem, o universo conspira a favor. De fato, várias sincronicidades durante as gravações nos ajudaram a concretizá-lo. Mas foi muito difícil presenciar aquela matança... O pavor no olhar dos bois, os gritos inconformados dos porcos... Tudo isso sem podermos reagir. Para todos os efeitos, estávamos ali para documentar uma cadeia alimentar. Uma verdade, sim. Mas obviamente sem mencionar que nossa visão seria pelo olhar dos animais.

Também nas granjas, onde milhares de pintinhos recém-nascidos em enormes incubadoras, cheirando a amoníaco, eram separados, pela aparência. Os considerados indesejáveis eram (ainda são) atirados numa enorme caçamba, uns sobre os outros, às centenas e levados ao triturador vivos, para serem vendidos como sub-produtos(!). Galinhas e frangos chegam em caminhões enormes, apertados em gaiolas. Quando ingressam no abatedouro, a caçamba do caminhão passa por um chuveiro de água fria, como um lava-jato, para molhar as aves. Esse impacto deixa-as sem qualquer reação quando elas são penduradas de cabeça para baixo em ganchos móveis que se direcionam à degola numa serra circular. O olhar tristonho desses animais é de partir o coração de quem ainda tem um mínimo de sensibilidade.

Lembro-me que à época muito pouco se sabia sobre as torturas por que passavam os animais antes de chegar ao prato de quem iria devorá-los. Percebia que mesmo colegas da proteção animal desconheciam essa realidade. O que me levou a aventar a possibilidade de produzir esse documentário foi a sensação clara de que aqueles animais pediam ajuda. Mas nenhuma pessoa de nosso grupo do INR acreditava que alguém iria querer ver aquilo. Porém meu sentimento interior era tão forte, que eu insisti na
ideia. Estando eu firme e decidida, todos passaram a colaborar e tornou-se um trabalho feito em conjunto.

Ninguém poderia imaginar a mudança que esse documentário traria para as vidas de quem os assistisse! Nem eu tampouco. Mas ele foi (e ainda é) tão importante, que tem sido considerado um divisor de águas a favor do vegetarianismo e veganismo no país. Passados 20 anos de sua existência, costumo dizer que ele já não é mais nosso. Tornou-se um bem público, sendo permitido exibi-lo, copiá-lo (só não vendê-lo) sem ônus algum, a não ser o "perigo" de ter sua vida transformada para melhor. Ainda hoje, acontece de alguém me parar na rua e perguntar: você é a Nina Rosa do A Carne é Fraca? Tornei-me vegana por sua causa... Nesses 20 anos recebemos centenas de depoimentos desse tipo por carta, fax, email, telefone. Atualmente, também por vias mais modernas.

Jus AnimalisO documentário Não Matarás, por sua vez, trata das mazelas da experimentação animal no ensino ou nas pesquisas científicas, lembrando que nessa área o INR publicou os livros Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação (Sérgio Greif) e Vozes do Silêncio – cultura científica: ideologia e alienação no discurso sobre vivissecção (João Epifânio Regis Lima). Fale um pouco disso.

Nina RosaNão Matarás - os animais e os homens nos bastidores da ciência talvez seja o mais impactante de todos os documentários que produzimos, por conter som e imagens. Devo dizer que as tentativas de gravar em biotérios aqui no Brasil foram todas rejeitadas pelos responsáveis, que sempre apresentavam alguma desculpa. Afinal, o documentário A Carne é Fraca já era conhecido e eles sabiam que nosso olhar seria pela ótica do animal. Mas, como o universo conspira a favor, quando em 2005 fomos convidados a exibir A Carne é Fraca no congresso Animal Rights de Los Angeles, convidei a Denise Gonçalves para ir também e sugeri levar a câmera, caso precisássemos. Foi então que tivemos acesso a várias pessoas e materiais gravados para editarmos finalmente o documentário sobre vivissecção.

Ativistas estrangeiros tinham conseguido gravar imagens das atrocidades cometidas em biotérios. E tivemos o relato emocionado de uma ativista, que trabalhou por um ano em um biotério, até ter oportunidade de filmar alguns dos horrores que lá aconteciam, que foi seu intuito desde o começo. Mal posso imaginar o sofrimento dela ao ter que olhar para a dor daqueles animais, tão abusados e infelizes, sem ao menos poder fazer-lhes um carinho ou demonstrar sua solidariedade, para não ser denunciada. Por que fazemos isso com os animais? Por que somos tão maldosos, impiedosos e abusivos?

Sobre o tema da experimentação animal, voltada na área do ensino sem violência, publicamos o livro Alternativas ao uso de animais vivos na educação - pela ciência responsável, escrito pelo biólogo Sérgio Greif. Publicamos também o livro de João Epifânio Regis Lima, cujo título Vozes do Silêncio dá a ideia de como esses animais ficam - literalmente - escondidos de olhos compassivos, em jaulas solitárias, para só terem contato com pessoas na hora de sofrerem dores horríveis ao serem utilizados como cobaias de lançamentos de medicamentos e outras experiências comprovadamente desnecessárias. Foi um livro pioneiro sobre o tema da vivissecção e desafia o silêncio que impera no meio acadêmico sobre essa prática de extrema violência.

Jus Animalis – No campo do direito dos animais, como bem sabemos, existe uma bela teoria e uma prática nem sempre efetivada. Tal dicotomia, que muito aflige as pessoas ligadas às entidades de proteção, estava a exigir uma espécie de capacitação direcionada a este setor composto, em regra, de pessoas leigas em matéria jurídica. Houve alguma iniciativa do INR para esclarecer melhor os direitos animais ao público? Pode-se dizer que o livro e o filme de animação denominado Vegana contribuiu para responder as dúvidas?

Nina Rosa – Sim, Vegana surgiu da ideia de produzir um material que não fosse angustiante demais para assistir, mas sem deixar de mostrar a realidade. Fazer esse trabalho em animação foi a solução para ser aceito também por adolescentes. Contar a história dessa garota - Luka, desde os obstáculos que sentia em casa e mesmo na escola, por agir com amor e compaixão pelos animais. Mostra uma garota firme, que não se deixou abalar pelas opiniões diferentes das suas, mas tão convincente que acaba transformando o sentimento de muitas pessoas. Fizemos também o curtíssima Pense Nisso, de 30 segundos, a convite e patrocínio de um empresário que havia se transformado depois de assistir A Carne é Fraca e queria colaborar. Ofereceu-se para pagar a exibição em TVs abertas para atingir maior público. Tivemos a colaboração totalmente voluntária da atriz Thaila Ayala e do ator Paulo Vilhena, que vieram espontaneamente a São Paulo para as gravações. Curta metragem pronto, o fato é que nenhuma das TVs aceitou exibi-lo. Uma delas foi honesta ao se justificar dizendo que era mantida pelo setor do agronegócio.

Jus Animalis – Muitas vezes sua presença física foi constatada em passeatas e manifestações de rua para reivindicar direitos aos animais, erguendo cartazes, conduzindo faixas ou simplesmente acompanhando os manifestantes durante os protestos públicos pela causa animal. Para além de seu trabalho de conscientização, acredita que o ativismo de campo pode ser uma maneira eficaz de chamar a atenção ou mesmo conscientizar a sociedade?

Nina Rosa – Sem dúvida. Eu digo que todas as iniciativas pelos animais são válidas e necessárias, seja em qual área for. A participação ativista em manifestações de rua é um trabalho de formiguinha, como se costuma dizer, mas que vai aos poucos transformando consciências. No meu caso específico, o fato de agir fisicamente para protestar contra situações que estão me incomodando demais é uma forma de estar solidária com os animais. Estar na rua por eles..., com eles.

Jus Animalis – Sabemos que as grandes transformações individuais surgem de momentos inesperados, introspectivos ou simplesmente inusitados. Sua vida é um exemplo disso, ao tratar de temas como respeito e compaixão pelos animais, ao defender santuários e áreas ambientalmente protegidas. Que legado ainda gostaria de deixar às futuras gerações?

Nina Rosa – Sei que há grupos organizados acolhendo e tratando dos animais salvos da crueldade. Defendo a ideia de santuários de animais, sob cuidados dos ativistas. Ali eles são tratados como verdadeiros sujeitos de direitos, coisa que ninguém deveria ser facultado negar. Direito que lhes é inerente: vida digna, com o maior espaço de liberdade possível, junto a seus pares, recebendo alimento, cuidados e amor.

Pena que na maioria da sociedade todo o medo, os abusos e a violência impingidos às outras espécies ainda são considerados “normais" por todos aqueles que se recusam a saber, a pensar e a sentir. Basta ver o que nós, seres humanos, estamos fazendo uns com os outros: guerras, pobreza, atentados à natureza com acúmulo de lixo plástico e outros tantos desmandos. Dessa forma, a meu ver, podemos considerar os animais não humanos mais sencientes do que os próprios humanos. Os animais não agem com maldade. Só atacam por fome, eles não negociam suas presas e nem matam com armas de fogo só para produzir uma selfie ao lado do defunto. Aos seres humanos que os maltratam resta a covardia em todos os sentidos.

Por isso tudo quero também ser o amor para os animais acolhidos em santuários. O sítio que cuido há 40 anos foi transformado em uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) e hoje temos a alegria de devolver à liberdade muitos animais silvestres. Lá na RPPN temos também um jumento e uma égua resgatados de maus-tratos.  Eles adoram correr, brincar, ser escovados e, principalmente, ganhar beijos nos focinhos. Acredito que a Natureza, nela incluindo os reinos animal, vegetal e mineral, é o que de mais precioso possuímos. Esses bens sim, é que deveriam ser acumulados, para nos tornar felizes e saudáveis. Esses bens me encantam a cada dia. Me mostram o milagre da vida. E eu agradeço.

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LAERTE F. LEVAI

Jornalista ambiental (DRT n. 96682/SP). É repórter do Jus Animalis.

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