Veganismo decolonial

O veganismo é questionado por ser considerado uma proposta de pessoas brancas, europeias e norte-americanas, das classes média e alta, com um alto rendimento per capita. O movimento vegano é também criticado pela cooptação por parte de um grupo humano privilegiado, branco, que tenta homogeneizar e universalizar o veganismo.

Diante disso, surgem alternativas de outros lugares, geográficos, culturais, sociais e políticos, que compreendem a complexidade e a opressão estrutural que o capitalismo e a globalização exercem sobre todos os seres vivos. Trata-se do veganismo popular, ao qual podem aderir pessoas com diferentes lutas: mulheres, camponeses, indígenas, que veem os animais não humanos como companheiros/irmãos, que compartilham com eles a ferida colonial.

A partir dessa perspectiva, os corpos dos outros animais também são sujeitos coloniais “porque o colonialismo e a supremacia branca, como maquinações políticas, exigem a exploração e o apagamento simultâneos dos corpos animais e indígenas”.[1].

Um exemplo desse veganismo alternativo/popular e de resistência ocorre no Brasil, onde o Grupo Veddas, de São Paulo, realiza intervenções, marchas e ações nas ruas para interpelar e conscientizar os observadores com cenas que aludem ao sofrimento e ao confinamento dos animais.

A politização, entendida como resistência, e a interseccionalidade são transcendentais para que o veganismo enfrente e questione o especismo, que não pode ser dissociado da colonialidade que justifica a exploração de animais não humanos e humanos subalternizados, cosificados e escravizados. O capitalismo subordina as vidas não humanas ao promover uma alimentação padronizada que atenta contra a vida.

Neste ponto, é fundamental esclarecer que o veganismo pode, e já aconteceu, fazer o jogo do mercado que oferece marcas e produtos ao alcance de uma elite econômica, esquecendo que a alimentação vegana não implica, necessariamente, consumir esses alimentos do supermercado a custos elevados, mas que é possível buscar alternativas locais e ancestrais sem sacrifício animal. Isso é vital porque a branquitude é em grande parte responsável pelo especismo como estratégia e sua perpetuação faz parte do projeto capitalista colonizador.

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Referências

[1] Societies 2015, 5, 1–11; doi:10.3390/soc5010001 Billy-Ray Belcourt.

Artículo en Español

JOHANA FERNANDA SÁNCHEZ JARAMILLO

Johana Fernanda Sánchez Jaramillo, animal humano, mulher de cor e sentimentalista. Doutora em Direito pela Universidad del Rosario na Colômbia, formada com excelência acadêmica. Advogada, comunicadora social e jornalista, mestre em relações internacionais, assistente social comunitária. Autora de 11 livros, oito relacionados ao conflito armado colombiano e três jurídicos, sendo estes: "A tensão entre o direito ao meio ambiente saudável e o desenvolvimento, na visão dos juízes" (2022); "Os animais como sujeitos de direitos: uma categoria jurídica em disputa" (2023) e "A declaração da natureza como sujeito de direitos e seu impacto na defesa de Katsa su do povo Awá de Nariño" (Colômbia) (2024). Pesquisadora e ativista acadêmica pelos direitos dos outros animais, da Mãe Terra, dos povos indígenas e dos direitos humanos. Autora de centenas de artigos jornalísticos, em inglês e espanhol, palestrante nacional e internacional. Vencedora de prestigiosas bolsas de jornalismo internacional, como Carter Center nos Estados Unidos, Justice for Journalists Foundation no Reino Unido e o International Center For Justice (ICFJ) nos Estados Unidos, dentre outras bolsas e reconhecimentos na Colômbia e na América Latina.

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