Bem-estar animal vs. Abolicionismo

O movimento animalista tem muitas vertentes, mas sem dúvida as mais populares são as correntes bem-estarista e abolicionista. A primeira tem como objetivo regular a exploração animal com medidas que diminuam seu sofrimento; a segunda, por outro lado, rejeita toda forma de exploração, não apenas as mais cruéis.

O bem-estar animal, com sua opacidade e ambiguidade, protege diversas formas de violência contra outros animais em atividades econômicas como a pecuária, a suinocultura, a avicultura, a piscicultura, a indústria agrícola e de vigilância, para citar apenas algumas, nas quais eles são usados para benefício dos humanos. 

Enquanto isso, o abolicionismo está ciente de que existe uma violência sistêmica, que oprime todos os animais — humanos e não humanos — chamada capitalismo. A partir dessa perspectiva, não é suficiente tentar diminuir o sofrimento ao mínimo possível ou evitar o “sofrimento desnecessário”, pois não há tortura necessária nem submissão justificável. 

Sob a ótica da ética animal aplicada, privar outros seres vivos de sua dignidade, atentando contra sua vida, restringindo sua liberdade e rompendo seus tecidos sociais e familiares é uma injustiça inaceitável, mesmo que se baseie na suposta superioridade humana e em estruturas econômicas, políticas e jurídicas feitas sob medida pelo ser humano para subjugar outros, não apenas sua própria espécie.

Para alguns, esta segunda opção parece radical, e é mesmo. Radical significa ir à raiz do problema, neste caso, o capitalismo, filho predileto da colonialidade, que nos iguala a todos os animais a partir da ferida colonial e neoliberal que nos atravessa a todos.

O abolicionismo nos convida a reconsiderar o espaço que ocupamos nesta sociedade planetária à qual pertencemos e a dar um lugar diferente aos mais oprimidos, àqueles cujos sentimentos são ignorados, seus mundos destruídos, suas comunidades quebradas, seus corpos descartados e transformados em mercadoria, em bens consumíveis, em víveres e mão-de-obra escravizada.

O caminho não é fácil, a luta é longa e talvez seus frutos sejam colhidos por futuras gerações mais conscientes, mais espiritualmente despertas, mais éticas. Finalmente, quando me perguntam por que insisto nessa causa que parece quixotesca, uma utopia, minha resposta é sempre a mesma: porque o tempo, o momento de fazer justiça é e sempre será agora!

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JOHANA FERNANDA SÁNCHEZ JARAMILLO

Johana Fernanda Sánchez Jaramillo, animal humano, mulher de cor e sentimentalista. Doutora em Direito pela Universidad del Rosario na Colômbia, formada com excelência acadêmica. Advogada, comunicadora social e jornalista, mestre em relações internacionais, assistente social comunitária. Autora de 11 livros, oito relacionados ao conflito armado colombiano e três jurídicos, sendo estes: "A tensão entre o direito ao meio ambiente saudável e o desenvolvimento, na visão dos juízes" (2022); "Os animais como sujeitos de direitos: uma categoria jurídica em disputa" (2023) e "A declaração da natureza como sujeito de direitos e seu impacto na defesa de Katsa su do povo Awá de Nariño" (Colômbia) (2024). Pesquisadora e ativista acadêmica pelos direitos dos outros animais, da Mãe Terra, dos povos indígenas e dos direitos humanos. Autora de centenas de artigos jornalísticos, em inglês e espanhol, palestrante nacional e internacional. Vencedora de prestigiosas bolsas de jornalismo internacional, como Carter Center nos Estados Unidos, Justice for Journalists Foundation no Reino Unido e o International Center For Justice (ICFJ) nos Estados Unidos, dentre outras bolsas e reconhecimentos na Colômbia e na América Latina.

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