Turquia: Parlamento aprova eutanásia de cães em situação de rua
Os partidos de oposição turcos prometeram lutar contra uma lei que autoriza a captura — e, em alguns casos, a matança — dos cerca de quatro milhões de cães “vadios” do país.
A lei foi aprovada nesta segunda-feira (29) por uma margem de 51 votos, apesar dos protestos da oposição. Os defensores dos animais temem que leve a um abate em massa, apesar das negativas do governo.
Deputados contrários à lei usaram luvas brancas manchadas com sangue falso durante o debate. “Nós desafiaremos essa lei no tribunal constitucional o mais rápido possível. Ela viola o direito dos animais à vida”, disse Ozgur Ozel, líder do principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP).
“Hoje é um dia sombrio. Nem a história, nem a humanidade, perdoarão aqueles que votaram ‘sim’”, protestou o parlamentar Aliye Timis Ersever (CHP).
O governo argumenta que os animais em situação de rua considerados doentes ou incontroláveis devem ser sacrificados para evitar um número crescente de ataques e a disseminação da raiva. E que os outros cães abandonados devem ser levados para abrigos de animais e colocados para adoção.
Os críticos dizem que depender de santuários de animais e adoção é, em última análise, impraticável devido aos números envolvidos. Em vez disso, eles defendem uma campanha de esterilização e vacinação em massa.
A lei reviveu memórias de uma tragédia de 1910, quando as autoridades otomanas reuniram cerca de 60.000 animais abandonados em Istambul e os enviaram para uma rocha deserta no Mar de Mármara. Sem mais nada para comer, os cães se despedaçaram.
O grupo internacional de bem-estar animal Four Paws pediu ao presidente Recep Tayyip Erdoğan que não ratificasse a nova lei.
“A Four Paws condena veementemente a matança (e) o abrigo em massa de longo prazo de animais vadios como forma de controle populacional, não apenas devido ao sofrimento que isso causa... mas também porque essa é uma maneira ineficaz, desumana e cara de reduzir o número de animais vadios”, disse.
O método mais bem-sucedido foi capturar, castrar e vacinar os animais e depois soltá-los novamente, acrescentou.
Erdoğan disse que a Turquia enfrenta um problema “como nenhum outro país civilizado”. O presidente, cujo partido AKP e seus aliados têm maioria no parlamento, disse na quarta-feira que as pessoas queriam “ruas seguras”.
O partido social-democrata CHP, que assumiu o controle de Istambul e outras grandes cidades nas eleições locais em março, anunciou que seus prefeitos não aplicarão a lei.
A legislação diz que os cães serão sacrificados se “apresentarem perigo à vida ou à saúde de pessoas e animais, apresentarem comportamento negativo incontrolável, tiverem uma doença contagiosa ou incurável ou cuja adoção for proibida”.
A lei diz que os conselhos locais devem construir abrigos para animais e implementar a lei até 2028. Os prefeitos que se recusarem podem ser presos por até dois anos.
A oposição acusou o AKP de buscar vingança após sua derrota nas eleições locais. “Vocês querem se vingar do dia 31 de março. Vocês podem aprovar quantas leis de massacre quiserem, mas nenhum dos nossos conselhos locais será cúmplice de vocês”, disse o deputado do CHP, Gokce Gokcen.
Milhões de pessoas na Turquia alimentam e acariciam os vira-latas do país. O plano do governo desencadeou protestos em todo o país e dentro do parlamento.
FONTE: AFP